sábado, 31 de outubro de 2009

A Lógica da Vida

Acabei recentemente de ler "The Logic of Life" de Tim Harford (autor de "Undercover Economist") que é um excelente exemplo das potencialidades da aplicação da ideia de que as pessoas tendem a agir racionalmente, ou dito de outra forma a responder aos incentivos, em temas como o vício, o crime, o ordenamento urbano, a participação urbana, o racismo, o casamento ou a vida no escritório ajudando a compreender esses aspectos da vida (e eventualmente a encontrar soluções).

A prinicpal tese do livro é que "rational behaviour is much more widespread than you would expect" e que "the ecoinomists' faith in rationality produces real insight", fazendo contudo no capítulo 1 (uma parte essencial do livro) uma análise bastante interessante do que isto implica na qual se desmitifica a aplicação deste princípio. Mostrando nomeadamente, que contrariamente ao que por vezes se supõe, que a validade destas análises não depende da aceitação da hipótese do Homo economicus "capable of performing impossibly complex financial calculations instantaneously and infallibly (...) the kind of guy who would strangle his own grandmother for a quid - assuming it didn't take more than a quid's worth of time of course". E embora este seja um exemplo de humor que muito provavelmente só um economista aprecia, o livro está muito bem escrito e pejado de outras passagens certamente mais consensualmente divertidas constituindo uma leitura fácil, agradável e estimulante.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Moody's desceu o outlook da divida portuguesa em "negativo"

De acordo com o Jornal de Negócios, a Moody's desceu o outlook da dívida portuguesa de "estável" para "negativo", justificando esta acção com os “desafios estruturais para a economia e a aparente falta de motivação dos políticos de os resolverem” e avisando que "Se a falta de competitividade se mantiver “o ritmo de crescimento da economia manter-se-á lento, e como tal limitará a habilidade do governo em doltar-se dos problemas com a dívida, mesmo num período de recuperação pós-crise”.

PIB no 3.º trimestre nos EUA

O PIB nos EUA subiu 3,5% (valor anualizado) no terceiro trimestre face ao trimestre anterior fruto da evolução muito positiva no consumo de bens duradouros (+ 22,4%), investimento residencial (+23,3%) e exportações (+14,7%). Para esta evolução contribuiu significativamente o programa de incentivos à renovação da frota automóvel (“cash for clunkers”) a que de acordo com o BEA será atribuível um crescimento de 1,7% (ou seja sensivelmente metade do valor registado).

Embora seja crível que no próximo trimestre a taxa de crescimento possa continuar a ser positivamente influenciada pela evolução dos stocks (cuja queda se atenuou apenas ligeiramente no 3.º trimestre) e beneficiar da continuação do impacto positivo da estabilização do investimento e do comércio internacional, a provável inversão da evolução do consumo de bens duradouros deverá condicionar a evolução do PIB no último trimestre do ano.

Indicador de sentimento económico

De acordo com os dados hoje divulgados pela Comissão Europeia o sentimento económico melhorou pelo sétimo mês consecutivo quer na zona euro quer na EU (+3,4 em ambos os casos para 86,2 e 86,0, respectivamente) para o que contribuiu sobretudo a evolução favorável da confiança na indústria (+4 e +3, respectivamente), sendo de realçar o facto deste indicador ter melhorado em 21 do 26 Estados membros da União Europeia (mais uma vez não forma publicados dados relativos à Irlanda). Efectivamente o indicador apenas desceu no Chipre (-9), Portugal (-6,1) e Eslovénia (-2,7) e manteve-se na Rep. Checa e na Roménia tendo melhorado em todos os grandes Estados da União Europeia (Itália: +3,8; Alemanha: +3,4; Reino Unido: +3,2; França: +3 e Espanha: + 1,9).

De salientar, no entanto, que apesar da recuperação este indicador ainda se mantém significativamente abaixo do valor 100 que corresponde à sua média de longo prazo.

No que respeita a Portugal a queda deste indicador é atribuível à deterioração da confiança na indústria (-7) a qual tinha subido fortemente no mês anterior (+9) e que agora retornou para níveis próximos dos que se verificavam em Agosto, tendo se verificado uma evolução positiva na confiança dos consumidores (+ 3), retalhistas (+2) e na construção (+3).

Venda de casas novas nos EUA

As vendas de casas novas nos EUA cairam em Setembro interrompendo 5 meses consecutivos de recuperação e contrariando as expectativas do "mercado", facto que terá contribuído para acentuar a queda significativa dos mercados bolsistas que tem ocorrido nas últimas 4 sessões. è de referir no entanto que se as vendas caíram o mesmo sucedeu igualmente com o stock de casas para venda.

Entretanto, foi hoje igualmente divulgado que as encomendas de bens duradouros que tinham caído 2,6% em Agosto subiram 1% em Setembro.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Indicadores nos EUA

Os indicadores económicos nos EUA apontam par um crescimento bastante forte no 3.º trimestre. De facto comparado os valores das vendas a retalho, produção industrial e construção nos meses Julho a Setembro com os de Março a Junho obtém taxas de crescimento trimestrais bastante significativas. De facto, no ultimo trimestre as vendas a retalho cresceram 1,6% enquanto que a produção industrial aumentou 1,4% e as construções novas mais de 8%, o que permite antecipar um crescimento do PIB bastante interessante.

Note-se, todavia, que para estes resultados, nomeadamente, das vendas a retalho e produção industrial terá havido um contributo significativo do programa de apoio à compra de carros novos que terminou em Agosto. E os dados relativos a Setembro denotam alguma perda de impulso.

sábado, 17 de outubro de 2009

Sobre as alterações das regras do crédito

Se os custos operacionais da banca aumentam em virtude das recentes alterações na regulação é verdade esses custos tendam a ser, pelo menos em grande parte, repercutidos sobre os clientes, eventualmente sob a forma de spreads mais elevados. São como disse o mediador do crédito as "regras do jogo" normais numa economia de mercado. Essa conclusão assenta contudo numa hipótese de concorrência perfeita que pressupõe transparência nos mercados.

Ora, as medidas concretas em apreço destinam-se a aumentar a informação dos consumidores e isso pode ter um efeito positivo sobre o grau de concorrência que, para os consumidores, pode mais do que compensar o aumento dos custos. Claro que se assim for significa que os lucros dos bancos são afectados.

Pessoalmente, arriscaria que qualquer dos efeitos deverá ser muito pequeno, mas depois de ver as declarações do presidente da APB não pude deixar de pensar que a reacção talvez indique que a medida é afinal positiva.

Parece-me, no entanto, que Fernando Ulrich pode ter razão quando considera que os limites às comissões na amortização do crédito de taxa fixa podem condicionar a oferta de produtos de crédito de taxa fixa, aspecto que talvez mereça análise mais cuidada.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Prémios nobel de economia

Embora já conhecesse aquelas que me parecem ser as teses essenciais das áreas em que trabalham Ostrom e Williamson, confesso que não conhecia em suficiente profundidade o seu trabalho. É por isso com enorme atenção que tenho acompanhado a análise que os Ladrões de Bicicletas têm feito do trabalho de Williamson numa série de posts a não perder (aqui, aqui, aqui e aqui) e foi igualmente com enorme prazer que reli dois posts de José Castro Caldas sobre a "tragédia dos comuns" (aqui e aqui).

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Indicadores do Sector Empresarial do Estado e das Parcerias Publico Privadas

De acordo com o Relatório de 2009 do Sector Empresarial do Estado divulgado pela Direcção-Geral do Tesouro em 2008 as empresas públicas não financeiras tiveram prejuízos operacionais antes de subsídios de 792 milhões de euros e um resultado financeiro de -694,7 milhões de euros, o que significa que (expurgando os 403,9 milhões de euros de subsídios) os prejuízos das EPNF ascenderam a 1.486,7 milhões de euros.
Enquanto isso o passivo das empresas públicas não financeiras aumentou 18.731 milhões de euros e os seus capitais próprios reduziram-se em 11,224 milhões de euros (para "apenas" 5.792 milhões de euros). E mesmo considerando que parte desta variação resultou de uma reclassificação contabilistica de subsídios estatais à construção de estradas numa conta do passivo a variação do passivo situar-se-ia próximo dos 6 mil milhões de euros.

Entretanto, num outro relatório da DGT, este sobre as Parcerias Público Privadas, indica-se que, em 2008, os pagamentos relacionados com concessões rodoviárias em regime de portagem virtual (as famosas SCUT) ascenderam a 667,6 milhões de euros. Nesse mesmo ano estavam em construção concessões com um investimento estimado de 3.151 milhões de euros e, ainda, em concurso mais concessões com o investimento global estimado de 3.427 milhões de euros.
De acordo com os plano de encargos plurianuais previstos (página 19 do Relatório) em 2015 os pagamentos relacionados com as concessões rodoviárias deverão ascender a 1.225 milhões de euros, a que se somariam 563,1 milhões de euros relativos às PPP no sector da saúde e 529,3 referentes à PPP na rede de alta velocidade (i.e., TGV) prefazendo um total de 2.360,1 milhões de euros, ou seja mais de 4 vezes o total dos encargos em 2008.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Krugman vs Kling

Tem sido extremamente interessante seguir a polémica entre Krugman e outros e os herdeiros da escola austríaca protagonizados por Arnold Kling.

Sinceramente acho que ambos têm alguma razão. Em Kling aprecio fundamentalmente a ideia da importância dos ajustamentos estruturais da economia que julgo importante e a que a macroeconomia convencional dá pouca atenção. Nas palavras de Kling a macro tradicional tende a raciocinar "in one giant GDP industry, and for some mysterious reason many of our GDP factories have shut down, so that government must build and operate some GDP factories to keep us all employed".

Posto isto, parece-me que o modelo de Kling tem algumas insuficiências notórias. Não tanto por não explicar de forma satisfatória como se geram os desajustamentos estruturais (por exemplo porque se formou uma bolha no mercado imobiliário dos EUA e outros países), mas sobretudo porque tende a sobrevalorizar a questão do "ajustamento" estrutural e a desvalorizar a importância da regulação da procura global.

Kling afirma que se "the economy needs to shift resources out of some sectors and into others. The government is either (a) permanently shifting resources from the private sector to government or (b) temporarily shifting resources from the private sector to government If it is doing (a), then we are not facing mere temporary deficits but permanent increases in government spending, and eventually we will have to figure out how to pay for them. If it is doing (b), then the Recalculation problem isn't really being solved". Mas, isso não implica que a utilização da procura através de políticas orçamentais não possa pelo menos minorar o problema.

Tomemos por exemplo os efeitos de uma bolha no sector da construção que a dada altura "rebenta" provocando uma redução "brusca" da procura de casas. De acordo com Kling isso sucederia porque a sociedade teria "decidido" que afinal não queria tantas casas e queria antes mais outros bens e serviços e a crise seria o resultado dessa realocação e o Estado não deveria interferir (ou então devia ajudar essa realocação). Mas mesmo aceitando esta visão demasiado simplisram esta análise parece esquecer as rigidezes da economia nomeadamente do capital e das qualificações e os efeitos dessa alteração de preferências nos balanços dos investidores, consumidores e sistema financeiro e as suas consequências sobre a procura global que irão afectar todos os sectores. E nesse caso haverá espaço para uma intervenção do Estado destinada a compensar a redução da "procura" global.

Dito isto parece-me que a análise de Kling pode chamar a atenção para a intervenção do Estado poder levar a "becos" e à perpetuação ou até agravamento dos desajustamentos estruturais e a situações de estagflação.

A conclusão talvez deva ser não de que o Estado deve abdicar de prosseguir uma política orçamental activa, mas sim de que essa política não pode assegurar o pleno emprego (lição que talvez devessemos ter aprendido com a experiência dos anos 70) sob pena de se pagar um preço significativo em termos de aumento da inflação e que as intervenções devem ser desenhadas de forma a não contrariar/impedir o ajustamento estrutural da economia.

sábado, 3 de outubro de 2009

Multiplicadores orçamentais

A questão da dimensão dos multiplicadores da despesa e do investimento público tem merecido particular atenção nestes tempos de elevado intervencionismo do Estado (uma colectânea de alguns dos principais artigos publicados pode ser acedida a partir daqui).

Neste contexto merece particular atenção um estudo recente de três economistas que estimaram os multiplicadores utilizando dados trimestrais para um conjunto de 45 países referentes ao período 1960-2007. No qual chegaram à conclusão de que os multiplicadores orçamentais são significativamente menores em países com elevado nível de endividamento, baixo nível de rendimento, regime de câmbios flexíveis e elevado grau de abertura face ao exterior.

Numa análise interessante a este estudo Krugman considera que embora os EUA tenham um regime de câmbios flexíveis, como a taxa de juro está muito próxima de zero não ocorrerá o efeito de "crowding-out" associado a aumento da taxa de juro e a economia dos EUA é uma economia relativamente fechada pelo que o efeito multiplicador deverá ser elevado para a economia americana. Note-se que no estudo aponta-se para um efeito multiplicador no longo prazo de 1,19 nos EUA e, dada o elevado output-gap e os argumentos referidos por Krugman, é razoável supor que esse valor possa ser mais elevado na actual conjuntura.

E quanto a Portugal ? A nossa situação não é tão clara como a que resulta para os EUA mas, apesar de estarmos em regime de câmbios fixos face aos nossos parceiros da zona euro, dado o nosso elevado nível de abertura ao exterior e o nosso elevado grau de endividamento é de recear que no nosso caso o efeito multiplicador seja relativamente baixo.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

ISM e inquérito ao emprego nos EUA

Os resultados do inquérito do ISM à indústria transformadora relativos ao mês de Setembro indicam uma descida de 52,9 para 52,9 o que aponta para uma expansão da actividade pelo segundo mês consecutivo, embora a um ritmo ligeiramente mais moderado.

Entretanto os dados dos inquéritos ao emprego indicam que a taxa de desemprego terá aumentado em Setembro para 9,8% (apesar de uma redução da taxa de actividade de 0,3 pontos percentuais) e que o número de assalariados se reduziu pelo 21.º mês consecutivo, desta vez em 263 mil, elevando-se a mais de 7,2 milhões a redução de empregos acumulada desde Dezembro de 2007.

Projecções do FMI

O FMI apresentou novas projecções mais optimistas para 2009 e 2010, revendo substancialmente em alta as suas projecções de crescimento económico. No relatório ontem publicado, o FMI refere que a retoma da actividade em curso está a ser substancialmente apoiada no ciclo de “stocks” e prevê uma recuperação lenta.


De acordo com as projecções ontem publicadas pelo FMI o PIB em Portugal deverá contrair-se 3% durante o corrente ano e aumentando ligeiramente em 2010 (0,4%) e 2011 (0,9%). Enquanto o desemprego deverá atingir 9,5% este ano e 11% em 2010.

Quanto às contas públicas, o FMI aponta para um défice orçamental de 6,9% em 2009 e 7,3% em 2010.