quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Krugman vs Kling

Tem sido extremamente interessante seguir a polémica entre Krugman e outros e os herdeiros da escola austríaca protagonizados por Arnold Kling.

Sinceramente acho que ambos têm alguma razão. Em Kling aprecio fundamentalmente a ideia da importância dos ajustamentos estruturais da economia que julgo importante e a que a macroeconomia convencional dá pouca atenção. Nas palavras de Kling a macro tradicional tende a raciocinar "in one giant GDP industry, and for some mysterious reason many of our GDP factories have shut down, so that government must build and operate some GDP factories to keep us all employed".

Posto isto, parece-me que o modelo de Kling tem algumas insuficiências notórias. Não tanto por não explicar de forma satisfatória como se geram os desajustamentos estruturais (por exemplo porque se formou uma bolha no mercado imobiliário dos EUA e outros países), mas sobretudo porque tende a sobrevalorizar a questão do "ajustamento" estrutural e a desvalorizar a importância da regulação da procura global.

Kling afirma que se "the economy needs to shift resources out of some sectors and into others. The government is either (a) permanently shifting resources from the private sector to government or (b) temporarily shifting resources from the private sector to government If it is doing (a), then we are not facing mere temporary deficits but permanent increases in government spending, and eventually we will have to figure out how to pay for them. If it is doing (b), then the Recalculation problem isn't really being solved". Mas, isso não implica que a utilização da procura através de políticas orçamentais não possa pelo menos minorar o problema.

Tomemos por exemplo os efeitos de uma bolha no sector da construção que a dada altura "rebenta" provocando uma redução "brusca" da procura de casas. De acordo com Kling isso sucederia porque a sociedade teria "decidido" que afinal não queria tantas casas e queria antes mais outros bens e serviços e a crise seria o resultado dessa realocação e o Estado não deveria interferir (ou então devia ajudar essa realocação). Mas mesmo aceitando esta visão demasiado simplisram esta análise parece esquecer as rigidezes da economia nomeadamente do capital e das qualificações e os efeitos dessa alteração de preferências nos balanços dos investidores, consumidores e sistema financeiro e as suas consequências sobre a procura global que irão afectar todos os sectores. E nesse caso haverá espaço para uma intervenção do Estado destinada a compensar a redução da "procura" global.

Dito isto parece-me que a análise de Kling pode chamar a atenção para a intervenção do Estado poder levar a "becos" e à perpetuação ou até agravamento dos desajustamentos estruturais e a situações de estagflação.

A conclusão talvez deva ser não de que o Estado deve abdicar de prosseguir uma política orçamental activa, mas sim de que essa política não pode assegurar o pleno emprego (lição que talvez devessemos ter aprendido com a experiência dos anos 70) sob pena de se pagar um preço significativo em termos de aumento da inflação e que as intervenções devem ser desenhadas de forma a não contrariar/impedir o ajustamento estrutural da economia.

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