domingo, 25 de janeiro de 2009

Transaccionáveis vs não transaccionáveis

Por definição, o desequilíbrio comercial externo português corresponde a um “desequilíbrio” entre a oferta e a procura de bens e serviços transaccionáveis internacionalmente.

Quanto a nós este desequilíbrio resulta, pelo menos em parte, da alteração da estrutura produtiva nacional provocada pela adesão à união monetária. Esta adesão conduziu a uma redução da taxa de juro nominal que correspondeu a uma política monetária excessivamente expansionista para as condições da economia portuguesa à época.

Daqui resultou um aumento da procura agregada dirigida quer a transaccionáveis quer a não transaccionáveis (nomeadamente, construção e serviços). Uma vez que os bens não transaccionáveis têm de ser produzidos internamente tal implicou um aumento da rentabilidade deste sector e, consequentemente, um aumento da procura de recursos (nomeadamente trabalho) para este sector com reflexo no aumento dos salários que ao não ser compensado por aumentos de produtividade no sector dos transaccionáveis conduziu a um agravamento dos custos unitários do trabalho que prejudicou a rentabilidade do sector dos bens transaccionáveis (cujos preços de venda são contidos pela concorrência internacional), reforçando o desequilíbrio.

Temos, assim, que este desequilíbrio foi uma resposta “racional” de adaptação dos agentes económicos às condições macroeconómicas vigentes que no quadro da moeda única apenas poderia ter sido evitada caso se tivesse prosseguido uma política orçamental muito restritiva e/ou através de um aumento muito mais rápido da produtividade nacional.

3 comentários:

Fábio disse...

Excelente análise. Parece-me no entanto que há um detalhe qualquer que contradiz o chamado efeito Balassa-Samuelson. Na análise desses autores os salários e preços dos não-transaccionáveis são arrstados pelos dos transaccionáveis. Ora na economia portuguesa, de acordo com a sua análise, os preços dos não-transaccionáveis conheceram uma deriva altista que "expulsou" a produção dos transaccionáveis.

João Pedro Santos disse...

A diferença está em que no modelo BS o aumento do preço dos bens NT deriva da menor evolução da produtividade neste sector (face à registada no sector T) pelo que o seu preço relativo aumenta (ou seja a evolução deriva de factores do lado da oferta) e é uma análise em economia fechada. Enquanto que na minha análise a evolução deriva essencialmente da evolução da procura face ao produto potencial e estamos num quadro de economia aberta.

Ana disse...

I'm impressed, eu deveria ter seguido economia...
Vou roubar...