A compra de 9,58% da Cimpor pela CGD levou esta instituição a fazer um comunicado no qual refere que tinha três opções: Opção 1 - nada fazer, o que implicaria o registo de uma imparidade de montante significativo com reflexos negativos directos nos resultados da CGD; Opção 2 - declarar o vencimento antecipado dos contratos e executar as garantias registando perdas elevadas com reflexos nos resultados da CGD; Opção 3 - encontrar uma solução "equilibrada" através de i) redução substancial da dívida no valor equivalente ao obtido através da venda à CGD de 9,58% do capital da Cimpor ao preço de 4,75 euros por acção, ii) opção de compra durante três anos ao "vendedor"; iii) revisão em alta da taxa de juro aplicável ao remanescente da dívida. Justifica ainda que o preço pago se adequa por se tratar de uma participação significativa e portanto com prémio de controlo implicito que segundo a CGD oscilará entre 25% e 35% do preço médio dos últimos 6 meses e que o preço corresponde aproximadamente ao valor médio da cotação nos últimos 6 meses (que será 3,78 euros) acrescido de 25% e além disso que os price-targets (excluindo os extremos apontam para um preço médio de 5,55 euros por acção).
Compreende-se o dilema da CGD (como dizia Keynes se alguém tiver dificuldades em pagar mil euros ao banco tem um problema mas se tiver dificuldades em pagar milhões de euros é o banco que tem um problema), mas chamo a atenção que (principalmente nos tempos em que atravessamos) não será muito prudente excluir os extremos menos positivos numa avaliação de acções. Sendo que, segundo o Jornal de Negócios, em Outubro a UBS desceu o price target de 4,00 euros para 3,30 euros, invocando «as perspectivas menos animadoras para o sector em Espanha, e também com a avaliação "mark to market" do BCP», factores que não creio terem melhorado significativamente. Além disso, parece-me que a concessão da opção é desproporcionada pois significa que se as acções da Cimpor descerem perde a CGD, se as acções da Cimpor subirem ganho a Investfino.
Por outro lado, parece resultar que a CGD vai manter as acções que agora adquiriu com um contabilizadas por um preço acima do mercado o que na prática corresponde a existência de uma perda potencial não registada. As "vantagens" da operação parecem ser sobretudo de natureza contabilística: evita-se o reconhecimento contabilístico de uma imparidade mas permanece o problema base (a queda do valor das acções da Cimpor), influenciando positivamente (no curto prazo) o montante dos dividendos pagos ao Estado (que contam para o défice) e provavelmente eventuais prémios pagos aos administradores com base nos "resultados".
Recorde-se ainda que esta questão é, pelo menos em parte, uma consequência do envolvimento da CGD na disputa pelo poder no BCP (que teve o desfecho conhecido) e para a muito provável existência de outras situações similares.
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