domingo, 19 de dezembro de 2010

O "sucesso" da Letónia

Via Krugman chegamos a este post do blog Yglesias que cita declarações de Klaus Regling, administrador do FEEF em que aponta a Letónia como um exemplo de "sucesso" de uma união monetária sem união fiscal e uma demosntração de que as políticas defendidas pela Comissão Europeia funcionam.

Para quem estiver menos familiarizado com a evolução da economia da Lituânia Letónia adverte-se que este caso de "sucesso" traduziu-se, entre 2008 e 2009, numa queda de mais de 25% do PIB (real) (!!) e que o desemprego  ultrapassa os 20%. Se isto é um exemplo de sucesso será melhor nem sequer imaginar um cenário de fracasso.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A evolução das exportações

Um aspecto francamente positivo da evolução da economia portuguesa em 2010 tem sido a evolução das suas exportações.

Esta evolução favorável parece, no entanto, estar longe de constituir um caso excepcional no contexto internacional como confirmam os dados hoje divulgados pelo Eurostat relativamente à evolução do comércio externo nos primeiros 9 meses do ano.

De acordo com os dados do Eurostat a evolução das exportações e do comércio intracomunitário, em Outubro as exportações (para países terceiros) do conjunto dos países da União Europeia ficaram 23% acima do valor registado em Outubro de 2009, valor que compara com um crescimento de 12,3% (divulgado pelo INE) para Portugal.

E no que se refere aos fluxos intracomunitários a situação é similar, pois enquanto os fluxos comerciais intra-comunitários registaram um crescimento de 12% as saídas de Portugal para outros países da União Europeia cresceram 9,7%.

Esta avaliação do comportamento relativo do comércio externo português é confirmada pelos dados divulgados pelo Eurostat relativos ao período Janeiro a Setembro para os diversos países da União Europeia que apontam para um crescimento das exportações portuguesas (incluindo comércio intra-comunitário) de 16% que compara favoravelmente com os registados na Irlanda (+2%), na Grécia (+3%), Dinamarca (+9%) e fica acima dos registados em países como a França (+12%), a Espanha (+13%) ou Itália (+14%), mas fica abaixo dos verificados na Alemanha (+19%), Países Baixos (+21%), República Checa (+21%), Hungria (21%), Reino Unido (21%), Polónia (+25%), Suécia (+25%), Roménia (26%) ou Bulgária (33%).

O crescimento das exportações portuguesas parece, assim, estar longe de ser um caso excepcional no panorama europeu e parece assim assentar no crescimento espectacular da procura externa fundamentalmente de países terceiros. Os dados do Eurostat revelam taxa de crescimento das exportações da União Europeia para países terceiros absolutamente impressionantes para Brasil (+53%), China (+39%), Rússia (+29%), Índia (+27%), Japão (+21%) ou EUA (+17%), para citar apenas as principais economias mundiais, e, igualmente, um crescimento muito forte das importações (incluindo aquisições intracomunitárias) das maiores economias da União Europeia: Itália (+21%), Reino Unido (+20%), Alemanha (+19%), França (+14%) e Espanha (+13%).

Refira-se, ainda, que esta evolução está associada a uma recuperação do comércio internacional para níveis próximos dos que se verificavam em 2008, antes do desencadear da crise económica e financeira que teve efeitos dramáticos sobre as exportações e importações (quer em virtude da redução da procura quer devido a problemas de financiamento), pelo que irá, naturalmente, abrandar nos próximos meses. O que significa que para a economia portuguesa possa manter taxas de crescimento das exportações idênticas às que tem vindo a registar terá que conseguir obter ganhos significativos de quota de mercado.

A Iniciativa para a Competitividade e o Emprego

O Governo aprovou no Conselho de Ministros de 5.ª feira uma resolução com um conjunto de 50 “medidas” para melhorar a competitividade da economia e “relançar” as exportações.

As “medidas” apresentadas assentam em 5 eixos: competitividade da economia e apoio às exportações; simplificação administrativa e redução dos custos de contexto para as empresas; competitividade do mercado de trabalho; reabilitação urbana e dinamização do mercado de arrendamento; e combate à informalidade, fraude e evasão fiscal e contributiva.

Um primeiro aspecto a assinalar é o número de medidas que, além de efectivamente impressionante, curiosamente corresponde exactamente ao número de reorganizações de serviços públicos anunciados no Relatório do OE para 2011 e revela um eventual fascínio pelo número 50.

Como seria de esperar as “medidas” agora anunciada são muito desiguais e nem sempre claras revelando e muitas vezes com uma redacção deficiente. Refira-se, aliás, que, regra geral, as alíneas não são minimamente concretizadas pelo que só com muito boa vontade poderão ser qualificadas como “medidas”, correspondendo, antes, um mero enunciado de intenções com carácter programático.

Neste contexto, na generalidade dos casos, não só não é possível avaliar o respectivo impacto como é difícil descortinar de que modo as “medidas” poderão vir a ser concretizadas.

Dito isto julgo que se pode salientar três “ideias” que poderão ter algum impacto positivo: i) o reforço do apoio aos seguros de crédito comercial, com a manutenção, durante o ano de 2011, de linhas específicas no valor de 3 000 milhões de euros, através de garantia pública e o reforço das linhas de crédito comercial com garantia pública para países fora da União Europeia; ii) Acelerar a execução do Quadro de Referência Estratégico Nacional 2007-2013 (QREN), fixando o objectivo de execução financeira para 2011 em 40% das suas dotações, permitindo injectar na economia um investimento superior a 5.000 milhões de euros, dos quais cerca de 3.850 milhões de euros correspondem a apoio público, através de incentivos às empresas, apoios à ciência e à qualificação e investimento em infraestruturas; e iii) a “ideia” de substituição do modelo de contratação colectiva com base sectorial para um modelo de contratação colectiva de base empresarial. Se as duas primeiras terão sobretudo um efeito conjuntural a terceira (cuja concretização antevemos difícil na medida em que corresponde a uma alteração profunda do modelo tradicional de negociação entre empresas e sindicatos) poderá vir a constituir um contributo importante para uma maior flexibilidade do mercado laboral.

Curiosamente, ou talvez não, estas medidas parecem ter passado fora dos "radares" do debate mediático que tem sido doimnado pela questão das compensações em caso de despedimento que teriam sempre um impacto muitissimo reduzido na dinamização do mercado de trabalho (que será obviamente ainda menor tornando-se absolutamente negligenciável no caso de se confirmar que apenas se aplicarão aos novos contratos).

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

PIB português no 3.º trimestre de 2010

Os dados hoje divulgados pelo INE indicam que no 3.º trimestre o PIB português terá ficado 1,4% acima do valor registado no período homólogo de 2009 e 0,3% acima do registado no trimestre anterior.

Este resultado ficou a dever-se ao bom comportamento da procura externa associado ao forte crescimento das exportações (9,2%) e à desaceleração das importações (1,5%) uma vez que o contributo da procura interna (-0,7%) foi negativo, devido à forte contracção do investimento (-8,6%) e ao moderado crescimento do consumo das famílias (1,3%) e das administrações públicas (0,3%).

De assinalar ainda que nos últimos 4 trimestres corresponderam a 8,2% do PIB. Valor ainda demasiado elevado mas que representa uma redução substancial (- 1,7 pontos percentuais) face aos valor que se registava há um ano atrás.

O elemento mais preocupante será a forte queda do investimento face ao período homólogo. Deve, no entanto, registar-se que, embora o investimento tenha caído 3,1% face ao trimestre anterior, este comportamento negativo ficou a dever-se à redução dos stocks e à FBCF em equipamento de transporte (-5,5% face ao trimestre anterior) tendo a FBCF em Outras máquinas e equipamentos, que regista uma descida homóloga de 14,4%, aumentado 1,7% relativamente ao 2.º trimestre.

Por sua vez, a FBCF em construção aumentou 0,9% face ao 2.º trimestre situando-se, no entanto, ainda em níveis historicamente muito baixos e que correspondem a uma quebra de 37,2% face ao valor máximo registado no 4.º trimestre de 2001.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Não há almoços grátis

A ERSE apresentou uma proposta de aumento de 3,8% nas tarifas de venda em baixa tensão. Entre os factores que determinam esta variação de preços, a ERSE elenca os Custos da Produção em Regime Especial (PRE) referindo que:

"O empenho de Portugal para cumprir as metas de produção de electricidade através de fontes de energia renováveis, tem-se materializado num conjunto de incentivos económicos à Produção em Regime Especial (PRE), que inclui, para além da produção de energia eléctrica a partir de fontes renováveis, a produção em cogeração de energias eléctrica e térmica.
O custo médio deste tipo de produção tem sido superior ao custo da produção em centrais convencionais, sendo que o seu custo total tem vindo a aumentar ao longo do tempo pelo facto das entregas desta energia eléctrica à rede terem aumentado significativamente nos últimos anos.
Este efeito manifesta-se nas tarifas de energia eléctrica através da inclusão nos proveitos permitidos às empresas reguladas, já que é o Comercializador de Último Recurso (CUR) quem, por lei, compra a totalidade desta energia.
Para 2011, estima-se um aumento com o custo da PRE face ao valor homólogo de 2010, sendo particularmente significativo nos custos com a produção em cogeração."

PS: De acordo com o quadro da página 8 do comunicado da ERSE a dívida tarifária acumulada ascende a 1.891 milhões de euros.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Desemprego nos EUA

A taxa de desemprego nos EUA voltou a subir em Novembro situando-se agora nos 9,8% o que equivale a mais de 15 milhões de desempregados, enquanto que o número de assalariados aumentou apenas 39 mil unidades, o que terá contribuído para reforçou a tendência de recuperação do euro suportada pela continuação dos sinais de alívio da crise da dívida soberana num dia em que o yield das obrigações genéricas a 10 anos da dívida portuguesa desceram mais 21 pontos base fechando a semana abaixo dos 6%.

Um artigo de Eichengreen

Barry Eichengreen ewscreveu um artigo, do qual felizmente o blog Irish Economy publicou uma tradução integral em inglês sobre o programa de apoio à Irlanda no qual considera que este programa apenas adia o problema e que o encargos para a economia irlandesa associados ao mesmo poderão dentro de alguns anos ascender a cerca de 10% do PIB e que essa situação não é politicamente sustentável, comparando-a mesmo com a situação da Alemanha no pós I Guerra Mundial, nem economicamente sustentável porque irá exigir uma "desvalorização interna" dos salários e cortes orçamentais incomportáveis.

Sintomaticamente este artigo surge ao mesmo tempo de um artigo de Kevin O'Rourke (reproduzido por Krugman no seu blog) onde refere:

"(...) we are about to have a general election, and if Brussels thinks that this deal is not going to be the big issue in that election, then they are even more out of touch than we already think they are. It is no longer even certain that the budget will be passed in December. Brussels may not have a Plan B, but they had better prepare one nonetheless.
Irish citizens may bring down the bailout of foreign bank creditors by voting at the ballot box, but if they do not, they will bring about a default of some kind by voting with their feet. We now face a negative spiral in which austerity causes emigration, which increases the burden of the debt, which ultimately leads to more austerity. (...)
Iceland is an obvious model for us. In a referendum, her voters have already rejected a proposal to pay back their banks’ creditors, who will take major losses. Now they have elected a constitutional assembly charged with drafting a new constitution. Ireland probably needs this more than does Iceland; I wish I were more confident that we will follow the latter’s example."

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A reacção à decisão do BCE

A decisão do BCE de manter as condições de cedência de liquidez enquanto for necessário e, pelo menos, até 12 de Abril de 2011 e de continuar a comprar dívida soberna no mercado secundário conduziu a uma queda de 0,504 pontos percentuais (para 6,14%) do yield das obrigações genéricas a 10 anos da dívida portuguesa.

A evolução recente dos mercados com o aumento da pressão sobre as dívidas da Espanha e da Itália estavam a assumir dimensões procupantes que importava atalhar o que, pelo menos para já, parece ter sido conseguido. Resta, no entanto, saber em que medida esta descida, que se concentrou num período extraordinariamente curto, se deveu à reacção dos mercados às palavras do presidente do BCE ou a aquisições desta instituição e, sobretudo, se os sinais positivos de hoje serão, ou não, confirmados pela evolução das cotações nos próximos dias e semanas.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ISM

O relatório do ISM hoje divulgado indicou uma queda do índice de 0,3 pontos para 56,6 pontos, o que indica uma continuação da expansão do sector industrial nos EUA, enquanto que o índice de novas encomendas desceu 2,3 pontos para os mesmos 56,6 pontos o que é apesar de tudo um resultado bastante bom especialmente se atendermos a que no mês anterior, depois de 4 quedas consecutivas, esta componente tinha registado um aumento de 7,8 pontos e se colocavam algumas questões quanto à sustentabilidade dessa recuperação que os números de hoje vieram de alguma forma atenuar.

À espera do BCE

Foi um dia de alívio da pressão quer sobre os juros da dívida pública com a taxa de juro das obrigações genéricas a 10 anos a cair para os 6,645% quer sobre as cotações dos principais bancos portugueses com as acções do BCP a recuperarem mais de 6% e as do BPI e do BES a subirem mais de 3%. O que parece estar relacionado com dados positivos relativamente à evolução da indústria e sobretudo com a expectativa de que o BCE poderá anunciar já amanhã nomeadamente através do anúncio de um incremento significativo do volume das suas compras de títulos de dívida pública de países da zona euro.

Entretanto, no leilão de BT realizado hoje o IGCP colocou 500 milhões de euros à taxa média de 5,281% (com a taxa mínima a situar-se nos 5% e a de corte nos 5,4%) o que representa uma subida de 0,468 pp face à emissão realizada no passado dia 17 de Novembro e mais de 2 pp relativamente à taxa do leilão de 3 de Novembro o que ilustra o agravamento muito significativo dos custos de (re)financiamento da República.

Mais más notícias

Foi um dia repleto de mais más notícias. Primeiro com o economista-chefe do Citigroup a considerar que Portugal (conjuntamente com a Grécia, Irlanda e provavelmente também a Espanha) são insolventes e colocar dúvidas quanto à suficiência do FEEF. Depois a S&P a considerar que a economia portuguesa irá contrair-se 2% em 2011 e a colocar o rating sob vigilância, sendo curioso de notar que uma das razões para uma eventual descida do rating da República reside no facto de Portugal poder ter de recorrer ao FEEF e os créditos que virem a ser concedidos nesse âmbito poderem vir a ter preferência sobre os créditos privados.

No que diz respeito a Portugal é ainda cada vez mais preocupante o comportamento das cotações das acções dos nossos bancos, em especial do BCP e do BES, influenciadas pelas preocupações com a exposição da banca nacional à dívida pública portuguesa e, naturalmente, com as desaniomadoras perspectivas para a economia portuguesa.

A nível europeu depois de Grécia, Irlanda, Portugal (que todos os analistas internacionais consideram que irá ser intervencionado) e Espanha a crise da dívida pública europeia está a estender-se à Itália (que mereceu um post de Krugman e uma análise aprofundada da Reuters) e até a França sentiu a necessidade de vir dizer que não é Portugal (onde é que já ouvimos isto ?), o que deve estar a fazer perder muitas horas de sono em Berlim, Bruxelas e Frankfurt e ameaça provocar mais um fim de semana intenso à espera de decisões do Ecofin.