sábado, 29 de janeiro de 2011

Uma explicação para a situação no Norte de África ?


Acontecimentos como aqueles que se têm registado nas últimas semanas no Norte de África têm sempre multiplas causas, mas esta talvez seja uma delas:


Com efeito este gráfico (obtido aqui) revela que os preços dos bens alimentares têm crescido de uma forma muito acentuada nos últimos meses. Em Dezembro de 2010 este índice revelava um aumento de 25% face ao valor de Dezembro de 2009, ultrapassando o anterior máximo registado em Junho de 2008.

E de acordo com esta notícia  "The annual inflation rates in prices of food and drinks, which constitute 44% of the basket in Egypt, amounted to 17.2% in December".

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Evolução do PIB nos EUA

Os dados preliminares divulgados pelo BEA indicam que PIB dos EUA cresceu no último trimestre de 2010 à taxa anual de 3,2% (mais 0,6 p.p. que no trimestre anterior), impulsionado pelo crescimento do consumo privado (4,4%) sobretudo em bens duradouros (+21,6%) e pela procura externa (as exportações cresceram à taxa de 8,5% e as importações recuaram 13,6%).

A taxa de crescimento poderia ainda ter sido mais elevada não fora a forte a desaceleração do investimento privado não residencial (que ainda assim aumentou ao ritmo anual de 4,4%) e da variação de stocks e a redução (-0,6%) do consumo e investimento das administrações públicas.

Estes dados apontam para que as exportações e o PIB a preços constantes tenham excedido os anteriores máximos registados no segundo trimestre de 2008.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Indicador de Sentimento Económico (ESI)

O indicador de sentimento económico recuou ligeiramente quer na União Europeia (-0,3 pontos para 105,8) quer na zona euro (-0,1 pontos para 106,5), mantendo-se, no entanto, claramente acima da média de longo prazo. Por países destacaram-se as quedas registadas na Alemanha (-1,7 pontos para 115,6) e no Reino Unido (-1,2 pontos para 100,5), tendo o indicador aumentado, embora de forma pouco significativa na França (+0,8 pontos), Itália (+0,2 pontos) e Espanha (+0,2 pontos).

Em Portugal registou-se uma queda de 0,7 pontos (para 91,2 pontos) resultado da descida da confiança dos consumidores e, sobretudo, na construção.

Em termos globais estes resultados não alteraram significativamente o panorama geral da evolução da economia europeia que continua a ser caracterizado por uma recuperação económica a três velocidades.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Fed mantém política monetária

Tal como se esperava o Fed manteve as taxas de juro e o essencial da sua avaliação da situação económica nos EUA referindo que "continues to anticipate that economic conditions, including low rates of resource utilization, subdued inflation trends, and stable inflation expectations, are likely to warrant exceptionally low levels for the federal funds rate for an extended period". Tendo indicado que irá manter o seu programa de aquisição de títulos tal como anunciado em Novembro.

Custo médio da dívida pública

De acordo com o jornal Público, o IGCP terá afirmado que "assumindo um cenário muito extremo de subida dos custos de financiamento do Estado, com quatro por cento para rolar todo o programa de Bilhetes do Tesouro e sete por cento para o conjunto das emissões de Obrigações do Tesouro deste ano, o país manteria custos implícitos de financiamento abaixo de cinco por cento em 2013".

Uma vez que a taxas média de colocação da última emissão de BT's a um ano foi de 4,03% e os yields das OT's a 10 anos no mercado secundário tem rondado os 7%, mesmo considerando que para as OT's a 5 anos o yield é actualmente próximo dos 6,3% e nas OT's a 2 anos se situa próximo dos 4,3%, isto significa que a manterem-se os actuais níveis de taxa de juro o custo médio da dívida se situaria abaixo dos 5% o que corresponderá a um valor abaixo daquele que seria o custo de financiamento junto do FEEF.

De acordo com os dados constantes da apresentração do IGCP em 2010 esse custo terá sido de 3,5% pelo que a manterem-se sensivelmente as actuais condições de financiamento, teriamos até 2013 um aumento correspondente a cerca de 1,5 pp da taxa de juro e os encargos com juros aumentariam cerca de 40%.

De acordo com o INE no final de Setembro a divída pública (consolidada) representava cerca de 142,3 mil milhões de euros no final do ano e os encargos com juros ascenderiam a cerca de 5,4 mil milhões de euros correspondentes a cerca de 3,2% do PIB. Pelo que um aumento de 40% dos encargos com juros implicaria, admitindo que o rácio da dívida face ao PIB se mantinha constante em 2012, que em 2013 os mesmos ascendessem a cerca de 4,5% do PIB, ou seja uma subida de 1,3 pontos percentuais.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

FMI - World Economic Outlook Update

Na sua actualização das projecções macroeconómicas para 2011 e 2012, o FMI traça um cenário bastante positivo antecipando a continuação da retoma e apontando para que o crescimento do PIB mundial se situe nos 4,4% em 2011 e 4,5% em 2012 (valores que descem para 3,5% e 3,6%, respectivamente, quando avaliado a taxa de câmbio de mercado).

Com o crescimento a manter-se bastante em níveis francamente elevados na China (9,6% em 2011 e 9,5% em 2012) e na Índia (8,4% em 2011 e 8,0% em 2012), enquanto na América Latina deverá abrandar um pouco mas ainda assim para uns significativos 4,3% em 2011 e 4,1% em 2012. Já nas economias mais desenvolvidas as taxas de crescimento são mais modestas (2,5% em 2001 e 2012) existindo importantes diferenças regionais com o crescimento nos EUA (3,0% em 2011 e 2,7% em 2012) a corresponder a quase o dobro do previsto para uma zona euro (1,5% em 2011 e 1,7% em 2012) e no Japão (1,6% em 2011 e 1,8% em 2012).

Também quando à inflação o cenário é positivo, apontando para níveis de inflação moderados nas economias mais desenvolvidos (1,6% em 2011 e 2012) e em descida nas economias emergentes (6,0% em 2011 e 4,8% em 2012).

O FMI aponta, no entanto, alguns riscos relacionados sobretudo com um possível contágio da crise da dívida soberana que tem afectado os países da periferia da zona euro, a ausência de consolidação fiscal a médio prazo nos EUA e Japão e a eventualidade de um aumento das pressões inflaccionistas nas economias menos desenvolvidas. Neste contexto, o FMI considera que a política monetária deverá permanecer expansionista nas economias mais desenvolvidas mas começar a tornar-se mais restritiva nas economias emergentes, manifestando ainda alguma preocupação com o ressurgimento dos fluxos de capitais para alguns países e recomendando que esses países deixem as suas moedas apreciarem-se para combater um eventual sobreaquecimento das economias e contribuir para o rebalanceamento da procura global.

Adicionalmente a actualização do relatório sobre a estabilidade financeira refere que, apesar das melhorias verificadas, os elevados níveis de endividamento no sector privado continuam a colocar riscos importantes quer para a recuperação económica quer para a estabilidade do sistema financeiro.

As propostas de alterações às indemnizações por despedimento

O Governo e as confederações patronais pretendem alterar as regras que regulam as indemnizações em caso de despedimento.

As propostas que têm vindo a ser anunciadas implicam uma redução destas indemnizações de 30 para 20 dias por ano de trabalho, impondo ainda um limite máximo de 12 meses o que significa uma redução superior a um terço.

Trata-se, portanto, de uma medida que reduz os custos de despedimento tornando mais flexível o mercado de trabalho. No curto prazo, os efeitos sobre o emprego deverão contudo ser pequenos na medida em que os custos estimados com o despedimento representam uma muito pequena parte dos custos totais estimados para o empregador, e todos os estudos indicam que a decisão de criar emprego é sobretudo influenciada pela evolução da procura. E ao facilitar as reestruturações o efeito poderia, principalmente numa conjuntura recessiva, mesmo ser negativo.

No médio e longo prazo estas medidas poderão contribuir para uma melhoria da afectação de recursos, tornando a economia mais flexível e contribuindo para um aumento da produtividade. Além disso poderá contribuir para, pelo menos, atenuar a imagem de Portugal como tendo uma das legislações mais laborais mais rígidas dos países da OCDE poderá contribuir para que possamos atrair um maior volume de investimento directo estrangeiro. Estes efeitos são, no entanto, muito difíceis de estimar e serão provavelmente pequenos (Nota: Contudo um estudo para o caso espanhol aponta para que as diferenças entre as legislações espanhola e francesa possam explicar cerca de metade do aumento do desemprego registado em Espanha entyre 2005-2007 e 2008-2009).

Ao propor que as novas regras apenas se apliquem aos novos contratos o Governo está a procurar sobretudo maximizar estes últimos efeitos contendo os quer os custos políticos que a medida implica quer os riscos relativamente aos efeitos no curto prazo.

Outro dos elementos da proposta do Governo consiste na criação de um Fundo para as quais as empresas seriam obrigadas a contribuir e que seria posteriormente responsável pelo pagamento de uma percentagem da indemnização. Do que li até agora não fica claro se a medida envolve alguma partilha de riscos entre as entidades que contribuem para esse fundo (caso em que funcionaria como uma espécie de seguro o que colocaria problemas consideráveis) ou se cada uma apenas poderá utilizar o fundo até ao montante do valor acumulado das respectivas contribuições, nem sequer como seriam calculadas essas contribuições. Em qualquer do caso trata-se de uma medida que se estranha pois corresponderá a uma antecipação dos encargos com os despedimentos e que desse modo tenderá a aumentar o valor presente dos encargos totais com o trabalho.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Síntese de execução orçamental de Dezembro de 2010

De acordo com os dados divulagados ontem pela DGO, em 2010 o défice do Estado ascendeu a 14.249 milhões de euros, o que representa um agravamento de 192 milhões de euros face ao valor registado em 2009. Este comportamento do saldo do subsector Estado foi, no entanto, compensado por uma evolução positiva dos saldos do subsector Serviços e Fundos Autónomos (SFA) que registou um saldo positivo de 2.262 milhões de euros (+ 1.516 milhões do que no ano anterior) e da Segurança Social que registou um saldo positivo de 651 milhões de euros (+72 milhões que em 2009). Daqui resultando um valor global do saldo da administração central e segurança social de - 11.335 milhões de euros (valor que corresponde a sensivelmente 6,6% do PIB) o que representa uma melhoria de 1.397 milhões de euros face ao valor de 2009, que corresponde à melhoria do saldo primário. Confirmando-se o comportamento igualmente favorável que os saldos das administrações regionais e, sobretudo, das administrações locais evidenciavam até ao final do 3.º trimestre será, portanto, de esperar que o saldo global fique significativamente abaixo do registado em 2009.

Para além de se dever salientar que se tratam aqui de valores apurados na óptica da contabilidade pública (e não das contas nacionais que é a relevante, nomeadamente, para efeitos do Pacto de Estabilidade e Crescimento) deve no entanto assinalar-se que esta melhoria se ficou a dever sobretudo à integração dos fundos de pensões da PT na CGA, no valor de 1.882 milhões de euros (ou seja cerca de 1,1% do PIB). Significa isto que sem este efeito, o saldo dos SFA ter-se-ia inclusive deteriorado face aos valores de 2009.

Por outro lado, se excluirmos igualmente o efeito da aquisição dos submarinos (1.001 milhões de euros, ou seja cerca 0,6% PIB), podemos, no entanto, concluir que o défice global da administração central e segurança social, na óptica da contabilidade pública, teria registado em 2010 uma ligeira melhoria de 510 milhões de euros (cerca de 0,3% do PIB) face ao valor verificado em 2009 cifrando-se em cerca de 12.216 milhões de euros (cerca de 7,1% do PIB).

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Uma nota sobre procura e oferta agregada

Desta vez não consigo concordar, pelo menos não completamente, com Krugman quando refere que:
"one thing that keeps appearing in comments is the notion that because we had a bubble, in which some people were borrowing too much, the economic growth of 2000-2007 wasn’t “real” — that it was all a figment of our imagination.
This is confusing demand with supply.
We really did produce all the goods and services counted in GDP; we were able to do that because we had willing workers, a sufficient capital stock, the right technology, and so on.
(...)
In other words, past growth wasn’t an illusion, or a fraud; but we need policies to sustain aggregate demand"
O que pressupõe que bastaria um aumento da procura agregada (via política monetária ou orçamental) para no curto prazo voltar ao nível de produto e emprego. Ora, isto só seria verdade se fosse possível reafectar todo o capital físico e humano por forma a adequá-lo à nova estrutura da procura. Quando na realidade o capital físico e humano é, pelo menos nalgum grau, específico de determinados sectores ou actividades e não é fácil de ser reafectado a outros usos.

Não é fácil saber a importância este efeito de alteração da estrutura da procura, mas uma das características do período pré-crise foi a forte expansão de sectores como a construção onde existirá hoje uma capacidade excedentária que não terá utilização (pelo menos com o grau de produtividade anterior), pelo que parece verosímil que este factorseja significativo. E se assim for, infelizmente não será assim tão fácil recuperar a diferença significativa entre o nível de produto actual e o que corresponde à sua tendencia de longo prazo.

Reestruturação da dívida soberana

A grande notícia dos últimos dias tem sido o facto de cada vez mais se falar abertamente na possibilidade de reestruturação da dívida soberana. Parecem ser cada vez menos aqueles que acreditam que, nomeadamente, a Grécia irá consguir satisfazer a totalidade dos seus compromissos.

Pessoalmente tendo a concordar com essas análises e penso que o facto de essa hipótese estar a ser colocada em cima da mesa constitui um sinal positivo de que a Europa será capaz de enfrentar os seus problemas, o que é um primeiro passo para os resolver.

No entanto, estas notícias pode ter um efeito preverso sobre a capacidade dos outros Estados mais débeis, sobretudo Portugal e Espanha, se financiarem no mercado e, por isso, parece-me fundamental que se verifique um aumento do FEEF que torne absolutamente claro que, caso necessário, estarão disponíveis os recursos necessários para um eventual apoio a Espanha.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Yields da dívida soberana

A notícia de que os ministros das financças da zona euro recusaram uma expansão do fundo de estabilização conduziu a uma subida das txas de juro da dívida portuguesa com os yields a 10 anos a fixarem-se nos 7,07%, os yields da dívida a 5 anos a atingir os 6,21% e os yields a 2 anos os 4,43%. Tendo igualmente afectado, embora em menor grau, as taxas de juro da dívida soberana espanhol.

Curiosamente esta informação não parece, contudo, ter afectado adversamente o euro nem as cotações dos bancos portugueses.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A crise da zona euro e situação de Portugal segundo a revista Economist

Na sua última edição, a revista Economist publica uma série de três artigos sobre a crise da zona Euro, cuja principal ideia é a de que a estratégia que está a ser seguida para conter a crise da dívida soberana dos países da zona euro está fracassar, considerando como virtualmente inevitável uma reestruturação da dívida em pelo menos alguns dos países da zona euro.

Segundo o Economist, a situação dos diversos países não é contudo idêntica. Enquanto que no caso da Grécia, mesmo com taxas de juro subsidiadas o peso do serviço da dívida será insuportável, no caso de Portugal e Irlanda os seus cálculos indicam que seria possível uma estabilização dos rácios de dívida caso as taxas de juro se situassem em níveis próximos dos 4%. Colocando, no entanto, um grande ponto de interrogação relacionado com a eventual necessidade de apoios adicionais aos respectivos sistemas financeiros.

Um ponto a salientar neste conjunto de artigos (onde se faz uma análise bastante interessante da evolução da economia portuguesa na última década associando o seu fraco desempenho à concorrência primeiro dos países asiáticos nos sectores tradicionais e depois dos países do alargamento) são as dúvidas quanto à saúde do nosso sistema bancário. A respeito do qual se refere que "Portugal says its banks are sound. But the combination of capital inflows and low productivity hints at wasteful investments and bad-debt problem".

sábado, 15 de janeiro de 2011

A (falta de) transparência na colocação da dívida pública

Os termos e condições que Portugal terá eventualmente oferecido para assegurar a colocação da dívida pública, junto de alguns países amigos quer no leilão do passado dia 12 de Janeiro quer numa operação de colocação directa de 1,1 mil milhões de euros (ver aqui, aqui e aqui) foi objecto de justificada chamada de atenção por parte de Daniel Bessa relativamente às eventuais contrapartidas políticas que possam ter sido prometidas, posição já secundada por Vitor Bento no blog da Sedes.

Com efeito como se referiu no Alphaville não é claro "what countries with relatively small stocks of debt, but incredibly poor sustainability of that debt (such as Portugal!) have to gain from MTNs. Or, more to the point — what investors get out of the notes, either". E, também não é clara a leitura destas   operações pois como também se refere no mesmo post "private placing signals something about a country’s assessment of its own standing in the market, for all the stability that a placement offers. On the other, it shows resourcefulness on the part of Portuguese debt managers".

Inflação nos EUA

Os dados ontem divulgados pelo BLS indicam que uma taxa de crescimento dos preços no consumidor nos últimos 12 meses de 1,5% (que compara com os 2,7% registados em 2009) e, mais importante, uma taxa de crescimento dos preços excluindo as componentes mais voláteis dos produtos energéticos e alimentares de somente 0,6% e que corresponde ao valor mais baixo desde 1958.

O que significa que, como seria de esperar dada a conjugação do elevado nível de desemprego nos EUA com a flexibilidade desta economia, existirão todas as condições para que a Reserva Federal prolongue (ou até intensique) a sua actual política monetária acomodatícia durante um período prolongado.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Vamos ser racionais ?

É o título, com ponto de interrogação e tudo, de uma série de 3 posts de Vitor Bento publicados no blog da SEDES (primeiro, segundo e terceiro) onde procura desmistificar o "papão" do FMI.

Parece-me, apenas, que omite um argumento contra a intervenção do FMI que é o facto de essa intervenção poder implicar um estigma com efeitos sobre a credibilidade do país perante os credores que poderá eventualmente perdurar por vários anos ou décadas. Dito isto, infelzimente, correndo o risco de ser acusado de falta de patriotismo e esperando que os acontecimentos revelem que estou errado julgo que tem razão num ponto essencial: o de que na actual situação será inevitável o recurso a alguma forma de auxilio externo (que aliás já está a ocorrer via intervenção do BCE no mercado secundário) e que não reconhecer essa realidade poderá contribuir para agravar o problema.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O comunicado do BCE

O BCE decidiu manter as suas taxas de juro e manteve a sua posição relativamente às medidas excepcionais:

"The stance, the provision of liquidity and the allotment modes will be adjusted as appropriate, taking into account the fact that all the non-standard measures taken during the period of acute financial market tensions are, by construction, temporary in nature. Accordingly, the Governing Council will continue to monitor all developments over the period ahead very closely."

Registe-se, no entanto, a alteração significativa do comunicado na parte em que se refere à inflação, relativamente à qual ressalta a passagem:

"Overall, we see evidence of short-term upward pressure on overall inflation, stemming largely from global commodity prices. While this has not so far affected our assessment that price developments will remain in line with price stability over the policy-relevant horizon, very close monitoring of price developments is warranted." (meu sublinhado)

E, igualmente, o facto de onde no comunicado de enquanto no comunicado de 2 de Dezembro, o BCE referia:

"Risks to the outlook for price developments are broadly balanced."

No de hoje refere-se o seguinte:

"Risks to the medium-term outlook for price developments are still broadly balanced but could move to the upside." (meu sublinhado)

O que denota claramente uma maior preocupação do BCE com a evolução dos preços na zona euro e, em particular, com os efeitos que as recentes subidas dos prços dos produtos energéticos e alimentares poderão ter sobre a evolução do nível de inflação no médio prazo.

Poupança das famílias em Portugal

No último Boletim de Inverno do Banco de Portugal foi publicado um artigo muito interessante sobre a poupança das famílias em Portugal, o qual além de uma discussão bastante interessante sobre os principais factores explicativos da taxa de poupança contem um conjunto muito relevante de informação sobre a poupança das famílias portuguesas.

Um aspecto que me surpreendeu pela dimensão do fenómeno é a elevada desigualdade da distribuição da poupança. De acordo com os dados constantes do artigo e que resultam do Inquérito às Despesas das Famílias (IDEF), 10% das famílias são responsáveis por cerca de 2 terços do total das poupanças e 20% das famílias geram mais de 90% do total da poupança das famílias. Enquanto que por decis de rendimento verificamos que mais de 50% da poupança é gerada pelos 10% de famílias mais ricas (que têm uma taxa média de poupança próxima dos 40%) e que os três decis de rendimento mais elevados geram cerca de 80% da poupança total, enquanto que a taxa média de poupança dos 4 primeiros decis de rendimento é muito baixa. E a taxa média de poupança nos três primeiros decis de poupança é mesmo negativa.

Neste contexto a "folga" financeira de uma percentagem significativa das famílias será muito reduzida e portanto a redução do rendimento disponível (via redução de rendimento bruto e aumento de impostos) deverá ter um impacto bastante significativo sobre as desepsas de consumo.

Deve, no entanto, notar-se que os dados possam estar afectados por erros de medida na medida em que como os autores referem tipicamente tanto o rendimento como as despesas de consumo tendem a ser sub-reportadas. Por outro lado, o IDEF não considera os encargos com juros pagos pelas famílias.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

É possível salvar a Europa ?

... é o título do mais recente artigo de Krugman  (que, num post, classificou o "sucesso" do leilão de hoje como uma vitória de pírrica) sobre a actual situação da Europa, no qual elenca o que considera serem os quatro cenários possíveis para a Europa: i) resistir suportando os (pesados) sacrifícios económicos e sociais mas evitando a reestruturação e a desvalorização; ii) reestruturação da dívida; iii) cenário Argentino, ou seja reestruturação e saída do euro; e iv) união orçamental.

Claro que os cenários ii) e iii) implicam igualmente pesados custos económicos e socias, eventualmente até superiores ao cenário i). E o futuro vai depender sobretudo de factores políticos. Contudo, pessoalmente, continuo a pensar que o cenário mais provável será uma combinação entre i) e iv), eventualmente com alguma forma mitigada de "eurobonds" e/ou o "aprofundamento" do papel do BCE a compensar parcialmente a ausência de uma política orçamental "federal".

Leilão de dívida pública

Nas dificeis circunstâncias em que ocorreu, o resultado do leilão de OT's hoje realizado constitui senão um bom resultado pelo menos um alívio na medida em que permite ao Governo alguma folga necessária para no imediato defender a sua posição de recusa de recurso ao FMI / FEEF.

Não obstante deve salientar-se que os resultados do leilão não se nos afiguram tão inequivocamente positivos como a (pequena) redução de 6,806% para 6,716% da taxa média ponderada das OT's Jun 2020 face aos resultados doleilão ocorrido em 10 de Novembro poderá levar a crer. É que além de se tratar de uma taxa demasiado alta (e desconfortavelmente próxima do mítico limiar dos 7%) e significativamente superior à registada em emissões anteriores a estas (no leilão de 22 de Setembro a taxa média havia sido 6,242%)  deve assinalar-se que o montante hoje colocado (599 milhões de euros) foi inferior ao colocado em Novembro (686 milhões). Mas, mais importante, é o facto da taxa média da colocação das OT's Out 2014 de 5,396%  não só se ter situado claramente acima dos 5% como registar uma subida muito substancial face aos 4,041% obtidos no leilão de 27 de Outubro, o que objectivamente constitui um mau resultado.

Neste contexto, é expectável que as pressões para que Portugal aceda a recorrer à ajuda do FMI/FEEF não só continuem como, até, se intensifiquem. Os resultados hoje obtidos poderão, no entanto, permitir a Portugal uma maior margem negocial quanto aos termos e condições desse auxílio.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Projecções do Banco de Portugal para a economia portuguesa

O Banco de Portugal divulgou hoje as suas projecções de Inverno para 2011 e 2012 e o cenário não sendo inesperado é sombrio.

O Banco de Portugal aponta para uma redução de 1,3% do PIB real em 2010, fruto de uma forte contracção da procura interna (-3,6%) , que desce em todas as suas grandes componentes (com a FBCF a cair 6,8%, o consumo público a descer 4,6% e o consumo privado a contrair-se 2,7%)  que é apenas compensada parcialmente pelo aumento das exportações (+5,9%) e a retracção das importações (-1,9%). De acordo com as projecções, em 2011 o PIB deverá crescer 0,6% mas este crescimento será exclusivamente à custa da procura externa uma vez que a procura interna deverá continuar a contrair-se em todas as suas componentes, fruto das medidas de consolidação orçamental e de uma maior restritividade das condições de crédito. Neste contexto, o Banco de Portugal prevê que o emprego se reduza em 1% em 2010 e 0,2% em 2011 o que implicitamente corresponde a uma evolução negativa da produtividade média.

Sendo de salientar que o Banco de Portugal considera existirem "riscos descendentes substanciais sobre a atividade económica no horizonte de projecção".

Igualmente preocupante é o facto de apesar do comportamento favorável da procura externa que permite uma melhoria substancial da balança de bens e serviços, o Banco de Portugal anteveja que o défice da balança corrente e de capital se mantenha em níveis elevados (-7,1% do PIB em 2010 e - 7,0% do PIB em 2011), em resultado da deterioração da balança de rendimentos.

domingo, 9 de janeiro de 2011

O recurso ao FMI

A evolução da taxa de juro da dívida pública portuguesa na última semana, com o yield das emissões a 10 anos a superar claramente os 7% apesar das intervenções do BCE, significa que a já reduzida margem de manobra para evitar o recurso ao FMI e ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira está a esgotar-se rapidamente, surgindo novamente notícias de que os nossos "parceiros" europeus estarão a pressionar para que Portugal solicite rapidamente um pedido de ajuda que a grande maioria dos economistas parece considerar como inevitável.

Particularmente preocupante parece-me, no entanto, a evolução das cotações bolsistas do principais bancos portugueses que afundaram para mínimos históricos pelo que significa em termos de dificuldades de financiamento da nossa economia.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Desemprego nos EUA

Em Dezembro, a taxa de desemprego nos EUA descceu 0,4 pontos percentuais (para 9,4%). A descida foi inflaccionada por uma redução de 0,2 pp da população activa. Não obstante trata-se de mais um indicador da tendência positiva da economia dos EUA que é confirmado pelo aumento de 103 mil empregados por conta de outrem.

Recorde-se, no entanto, que o número de desempregados se situa próximo dos 14,5 milhões e que o número de empregos está ainda mais de 7 milhões abaixo do que se verificava em finais de 2007, pelo que ainda falta percorrer um longo, e provavelmente demorado, caminho para que a taxa de desemprego se reduza para níveis mais "normais".

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A conjuntura nos EUA e na Europa

Nos EUA, o ISM registou uma ligeira subida de 0,4 pontos (para 57 pontos) indicando a continuação da evolução positiva da actividade da industria transformadora sendo de assinalar o aumento de 4,3 pontos (para 60,9 pontos) da componente "novas economendas", enquanto que nos serviços o aumento foi de 2,1 pontos para 57,1.

Entretanto, na União Europeia, o Indicador de Sentimento Económico registou em Dezembro uma subida de 1,0 pontos (para 106,1), verificando-se evoluções positivas nas prinicipais economias à excepção da Espanha onde se verificou uma queda de 0,9 pontos. A evolução deste indicador continua a revelar uma Europa a duas velocidades, existindo uma acentuada divergência entre a situação das economias do centro e norte da Europa (Alemanha, França, Países Baixos, Bélgica e Suécia) nos quais este indicador está claramente acima da média de longo prazo e os países periféricos do Sul da Europa (Bulgária, Grécia, Espanha, Itália, Portugal e Roménia).