segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Previsões de Outono da Comissão Europeia

A Comissão Europeia divulgou hoje as suas previsões de Outono para 2011 e 2012 projectando um ligeiro abrandamento do crescimento do produto de 1,8% em 2010 para 1,7% em 2011 para o conjunto da União Europeia (e de 1,7% para 1,5% para a zona euro), prevendo-se uma descida marginal da taxa de desemprego que se manterá, em 2011, em níveis muito elevados (9,5% para a União Europeia e 10% para a zona euro).

No que se refere a Portugal as previsões da Comissão apontam para uma quebra do PIB que resulta de uma contracção da procura interna correspondente a 4% do PIB com todas as suas componentes a cair (consumo público: -6,8%, formação bruta de capital fixo: -3,2% e consumo privado -2,8%) parcialmente compensada pela contribuição positiva da procura externa associada a um aumento das exportações de 5,6% e uma redução de 3,2% das importações. Prevendo a Comissão que a taxa de desemprego atinja ao 11,1%, em 2011, e os 11,2% em 2012.
Uma boa notícia é a redução do défice externo de 9,5%, em 2010, para 6,7%, em 2011, e 5,3% em 2012, o que significaria uma evolução bastante significativa de uma variável num contexto macroeconómico, apesar de tudo, relativamente benigno. Mais preocupante é o facto de que nas projecções da Comissão Europeia o défice orçamental ficaria acima dos valores definidos no PEC situando-se em 4,9%, em 2011, e 5,1%, em 2012, o que corresponde a um desvio de cerca de 0,3 pp (cerca de 500 milhões de euros) e de 2,1 pp (cerca de 3.500 milhões de euros) face aos objectivos.

Indicador de Sentimento Económico

O indicador de sentimento económico para o conjunto da União Europeia e da zona euro voltou a registar um aumento significativo no mês de Novembro aumentando 1,3 pontos e 1,5 pontos, respectivamente, atingindo valores máximos desde finais de 2007 e apresentando evoluções positivas em todas os sectores à excepção da construção. Por países destaca-se o aumento de 2,5 pontos verificado na Alemanha e o de 1,4 registado na Itália, enquanto que nos restantes grandes países as variações foram marginais (Reino Unido: + 0,5 pontos, França: - 0,2 pontos, Espanha: +0,3 pontos). Em Portugal registou-se uma queda de 2,2 pontos para 88,5 pontos, que corresponde ao valor mais baixo desde Dezembro de 2009.

A comparação dos valores deste indicador nos diferentes países da União Europeia revela três grupos de países com situações conjunturais completamente distintas. Num primeiro grupo, temos os países onde o indicador supera os 105 pontos onde se incluem vários países do centro e norte da Europa nomeadamente a Suécia (119,5), a Alemanha (116,3), a Áustria (111,9), a Bélgica (110,8) e a Finlândia (109,9). Um segundo grupo onde o indicador está abaixo dos 95 pontos que engloba a Grécia (67,0), a Roménia (81,1), Portugal (88,5), a Espanha (90,8), a Bulgária (92,4) e muito provavelmente a Irlanda para a qual uma vez mais este indicador não foi revelado. E finalmente um terceiro grupo de países que se encontra numa situação intermédia.

Dois artigos de Krugman

Nos útlimos dias publicou dois excelentes artigos sobre a crise na zona Euro. O último intitula-se "Spanish prisoner" e apesar de conter uma referência a Portugal, considerando que é geralmente apontado como o próximo "dominó", centra-se na Espanha e consiste basicamente numa avaliação das perspectivas económicas deste país concluindo que no contexto do euro a única opção para a Espanha será uma "desvalorização interna" ou seja um corte dos preços e salários que normalmente para funcionar exige vários anos de altas taxas de desemprego, concluindo que a alternativa de saída do euro não será melhor o que justifica o título do artigo. Krugman não o diz mas o cenário para Portugal é idêntico.

O outro artigo já tem alguns dias e intitula-se "Eating the Irish" e versa sobretudo a questão da "nacionalização" de dívidas privadas que, como Krugman refere, serviram para financiar uma loucura especulativa "driven by runaway banks and real estate developers, all in a cozy relationship with leading politicians. The frenzy was financed with huge borrowing on the part of Irish banks, largely from banks in other European nations." que quando a bolha reventou iomplicou perdas gigantescas para os bancos que foram cobertas pelo Estado (ou seja pelos contribuintes). Como salienta Krugman "These debts were incurred, not to pay for public programs, but by private wheeler-dealers seeking nothing but their own profit. Yet ordinary Irish citizens are now bearing the burden of those debts." Concluindo depois com uma comparação com a situação da Islândia que "let foreign lenders to its runaway banks pay the price of their poor judgment, rather than putting its own taxpayers on the line to guarantee bad private debts".

Behind the curve

Foram hoje anunciados os detalhes do plano de resgate da Irlanda que vai obter 85 mil mihões de euros a uma taxa média de 5,83% a reembolsar em 7 anos, concedendo-se à Irlanda um prazo até 2015 para reduzir o défice para 3%.  De acordo com esta notícia da Bloomberg há ainda que assinalar dois desenolvimentos importantes: i) o acordo de principio quanto ao mecanismo de estabilização pós 2013 ficando claro que a participação dos privados num futuro plano de resgate não terá carácter automático e ii) a extensão do prazo de reembolso concedido à Grécia em 4 anos e meio (de 2013 para 2017).

Estas iniciativas destinam-se a responder a dois dos factores que vinham sendo apontados como responsáveis pelo recente aumento dos custos de financiamento dos países da periferia, pelo que seria de esperar que permitissem um alívio das actuais dificuldades de colocação da dívida por estes países. Julgo, no entanto, que infelizmente esse alívio será limitado pois, para além de alguma falta de clareza quanto ao funcionamento do futuro mecanismo de assistência, a verdade é que as pressões dos mercados têm bases mais profundas que se prendem com dúvidas quanto à solvabilidade dos países afectados e a própria sustentabilidade do euro que estas medidas não afastam.

PS: De acordo com este documento 17,5 mil milhões de euros provêm da própria Irlanda, sendo a contribuição externa é de "apenas" 67,5 mil milhões de euros (45 mil milhões asseugurados pela União Europeia e 22,5 mil milhões pelo FMI).

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Notícias da Irlanda

O Governo irlandês anunciou hoje o seu plano de recuperação nacional para o período 2011-2014 no qual projecta um ajustamento brutal de 15  mil milhões de euros dos quais 6 mil milhões a efectuar já em 2011 para obter um défice de 9,1% do PIB em 2011 e abaixo do 3% em 2014. No seu conjunto o plano envolve 10 mil milhões de euros de corte na despesa - entre as medidas mais dramáticas refira-se o corte de 2,8 mil milhões de euros nos benefícios sociais e uma redução de 25 mil funcionários públicos - e 5 mil milhões de aumento da receita fiscal - sobretudo através do aumento do IVA para 22% em 2011 e 23% em 2014, do aumento dos impostos sobre as pessoas singulares e da redução dos benefícios fiscais. O plano baseia-se, no entanto, em projecções macroeconómicas irrealistas prevendo um crescimento médio anual no período de 2,75% e uma redução do desemprego dos actuais cerca de 13,5%, em 2010, para valores abaixo dos 10%, em 2014, que comprometem a credibilidade de um plano já colocado em dúvida por incertezas políticas.

Para piorar o cenário os mercados parecem não estar muito convencidos de que a intervenção do FMI/FEEF será suficiente para resolver os problemas financeiros e ontem assisitiu-se a uma derrocada das cotações dos principais bancos irlandeses (hoje as cotações do AIB recuperaram ligeiramente mas as acções do Bank of Ireland afundaram mais 11%), por receios de que possa estar iminente uma nacionalização ou, pelo menos, uma diluição considerável do valor das acções, o que coloca um grande ponto de interrogação sobre os resultados dos famosos testes de "stress" anunciados em Julho em que ambos os bancos passaram (ver aqui e aqui).

PS: Entretanto, está a ser noticiado que o Ministro Teixeira dos Santos irá reunir-se amanhã com os presidentes da CGD, BCP, BES e BPI.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Irish aftermath

Infeliz (mas não inesperadamente) o anúncio do apoio à Irlanda não parece não ter sido suficiente para tranquilizar os mercados quanto à situação das finanças públicas portuguesas  e o yield da dívida pública a 10 anos voltou hoje a subir para valores próximos dos 7%, num dia em que voltaram a surgir notícias sobre as fragilidades do nosso sistema bancário, chamando a atenção para a sua (excessiva) dependência do financiamento junto do BCE.

Neste contexto em que parece inevitável o recurso ao FMI e ao Fundo de Estabilização Europeu, será ainda mais interessante o paper publicado pelo FMI intitulado "Lifting Euro Area Growth: Priorities for Structural Reforms and Governance" onde os países do sul da Europa surgem como aqueles surgem como aqueles onde os "atrasos" nas reformas estruturais será mais elevado (ver tabela da página 8) e se considera o mercado de trabalho e a melhoria do ambiente empresarial como a área prioritária a intervir. Diga-se no entanto que as medidas específicas propostas para Portugal  (página 22) não parecem particularmente originais:
"- Promote firm level wage bargaining to allow companies to opt-out from industry-wide arrangements
- Reduce severance payments (which area above EU average level) both for fair and unfair dismissals
- Relax employment protection for regular workers with a view to reducing protection gap with temporary workers
- Relax working time regulations to help reduce cyclical employment losses
- Promote vocational training to raise labor quality
- Streamline licensing processes for businesses and more generally accelerate the implementation of the authorities' SIMPLEX program
- Expedite the revision of existing legislation to make it compatible with the EU Service Directive
- Resume the privatization process and expand performance monitoring of state-owned enterprises".

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

PIB e emprego em Portugal

Os dados provisórios do INE para a evolução do PIB no terceiro trimestre apontam para um crescimento de 0,4% face ao trimestre anterior e de 1,5% face ao período homologo, o que constitui um resultado positivo não só pelo valor em si (o crescimento face ao trimestre anterior está em linha com o registado na União Europeia onde no entanto a taxa de crescimento homóloga se situa nos 2,1%), mas sobretudo pelo facto de se basear num crescimento das exportações correspondendo assim a uma redução do défice externo. O aspecto menos positivo, apesar de esperado, destes dados parece ser a continuação do comportamento negativo do investimento. Refira-se ainda que este valor implica que caso o PIB se mantivesse neste nível o crescimento médio do PIB em 2010 face a 2009 seria de 1,6%.

Esta evolução do PIB que está agora "apenas" cerca de 1,9% abaixo do valor registado no terceiro trimestre de 2008 não foi, no entanto, suficiente para impedir um novo aumento da taxa de desemprego para cerca de 10,9%. Sendo de assinalar que a estimativa do número de desempregados ultrapassou pela primeira vez os 600 mil, registando-se um aumento de 175,7 mil desempregados e uma redução de 232,2 mil  empregos face aos valores do terceiro trimestre de 2008. O que significa que a redução do emprego (cerca de 4,5%) foi significativamente superior à redução do PIB e que se registou um aumento do produto médio por trabalhador.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O recurso ao FMI parece inevitável

No leilão de ontem o Estado Português financiou-se a 10 anos a taxas entre 6,738% e 6,846% (média ponderada de 6,806%) ou seja um valor abaixo mas próximo do tão badalado limiar dos 7%. Enquanto que na emissão a 6 anos a taxa média foi de 6,156%. O facto deste resultado que corresponde a um agravamento do custo de financiamento de 1,494 pp e 1,785 pp face aos valores verificados numa operação similar ocorrida em 25 de Agosto deste ano ter sido recebida com alívio é, por si só, bem revelador da situação adversa em que nos encontramos.

Por outro lado, a evolução das taxas de juro no mercado secundário da dívida portuguesa acentua essa preocupação. Pois, o facto do yield das OT's a 10 anos estar a atingir valores claramente superiores a 7% edos títulos irlandeses a 10 anos estarem a atingir taxas muito próximas dos 9% (!!!) significa que o Banco Central Europeu não está disposto a intervir para colocar um tecto nos custos de financiamento destas duas economias.

Neste cenário,  atendendo àquelas que serão as  nossas necessidades de financiamento previstas para 2011 e às evidentes dificuldades de financiamento dos nossos bancos em obter financiamento no exterior, o recurso ao apoio externo do FMI e do Fundo de Estabilização Europeu parece inevitável. Creio mesmo que o agravamento dos custos de financiamento tenderá a fazer com que as agências internacionais e os nossos parceiros europeus encararem essa solução como a melhor forma de  evitar o agravamento do efeito de contágio à Espanha e Itália. Por isso ou me engano muito ou o recurso a apoio externo estará por semanas senão mesmo por dias... a não ser que ocorra um milagre.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Mecanismo Europeu para a Resolução de Crises de Dívida Soberana

É a tradução de European Mechanism for Sovereign Debt Crisis Resolution (EMSDR) proposto pelo think tank Bruegel que visa reduzir os problemas de risco moral e equilibrar os interesses dos devedores e credores que incluiria dois pilares:

- A procedure to initiate and conduct negotiations between a sovereign debtor with unsustainable debt and its creditors leading to, and enforcing, an agreement on how to reduce the present value of the debtor’s future obligations in order to re-establish the sustainability of its public finances. This would require a special court to deal with such cases. The European Court of Justice is the natural institution for this purpose and a special chamber could be created within it for that purpose.

- Rules for the provision of financial assistance to euro-area countries as an element in resolving the crisis. Should a euro-area country be found insolvent, the provision of financial aid should be conditional on the achievement of an agreement between the debtor and the creditors reestablishing solvency. The task of supplying financial assistance could be given to the EFSF provided that it is made permanent and an institution of the European Union. Lending by the permanent EFSF could also be provided, under appropriate conditions, to euro area countries facing temporary liquidity problems, as currently foreseen by the temporary EFSF.
 
Esta proposta surge na sequência da declaração franco-germânica de Deauville de que o Presidente do BCE se demarcou ao recordar que "The IMF does not make necessarily the ex-ante working assumption that the relationship with markets, investors and savers is interrupted. It can be, but it is not the ex-ante compulsory assumption. (...) Of course, it can never be excluded, but this assumption is not made as compulsory ex ante. I would say the assumption made is the contrary." e que tem suscitado várias críticas sendo apontado como um dos factores que conduziu ao recente aumento dos yields das dívidas públicas grega, irlandesa e portuguesa. Sendo a este respeito é curioso notar que na proposta agora apresentada se refere que "The creation of the ECRM would likely need to be established by a treaty. The mechanism would, therefore, only apply to future debt issuance."

A leitura deste documento vale a pena naõ só pela actualidade e importância do tema mas também pelo enquadramento que faz da questão, que revela, por um lado, os argumentos favoráveis à sua criação (que são convincentes) e, por outro, as dificuldades para a sua implementação (que são consideráveis).

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Update

Como era de temer os yields da dívida pública portuguesa continuam a subir aproximando-se perigosamente do limiar dos 7% imprudentemente "fixado" pelo Ministro das Finanças e colocando-nos sob o foco dos mercados.  Aparentemente apenas uma intervenção substancial do Banco Central Europeu ou um bom resultado no leilão de amanhã (leia-se a colocação da dívida a 10 anos a taxas significativamente abaixo do 7%) poderão conter esta tendência no curto prazo.

De qualquer modo, as perspectivas a médio prazo não são mesmo nada animadoras. De acordo com os dados do IGCP o valor das OT's e BT's que atingem a maturidade até ao final de 2011 ascendem respectivamente a 9,49 mil milhões de euros e 20,063 mil milhões de euros. Acresça-se os 11,573 mil milhões de euros de aumento do endividamento previstos na proposta de Lei do OE para 2011 e temos que, em 2011, o Estado terá que financiar mais de 40 mil milhões de euros num contexto que se antevê particularmente adverso.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

No fio da navalha

Num dia em que as taxas de juro da dívida pública portuguesa voltaram a bater recordes, a descida pela Fitch dos ratings do BPI (para A-)  e, sobretudo, do BES e do BCP (para BBB+) é muito preocupante porque nos coloca num ciclo vicioso do qual será muito dificil sair.

Uma das razões invocadas pela Fitch para este downgrade é "o aumento das dificuldades de acesso ao mercado interbancário em resultado das preocupações relacionadas com a dívida soberana de Portugal". Ora sucede que, tal como ocorreu na Islândia e está a ocorrer na Irlanda, a situação do sistema bancário e a necessidade de uma eventual intervenção (que no caso português seria claramente incomportável) é um elemento adicional de pressão sobre os yields da dívida pública portuguesa. E o resultado é uma subida das taxas de juro para níveis que o Goldman Sachs classifica de "claramente  insustentáveis" tornando quase (?) inevitável o recurso a apoio externo.

Tragédia celta

Cada dia que passa, a situação do sistema bancário do “Tigre Celta” parece-se mais com a que conduziu ao colapso da economia islandesa, confirmando, ainda que com um atraso considerável as perspectivas daqueles que, em Outubro de 2008, consideravam que a diferença entre a Islândia (Iceland) e a Irlanda (Ireland) eram uma letra e seis meses ter-se-ão enganado “apenas” em cerca de 2 anos.

Efectivamente, tal como aconteceu na Islândia, a situação dos bancos irlandeses está a conduzir a uma situação insustentável. Por exemplo, neste artigo do Irish Times considera-se que os custos com a intervenção no sistema bancário irlandês que o Governo estima em cerca de € 45 mil milhões poderão atingir os € 70 mil milhões, salientando que “What is driving our bond yields to record levels is not the Government deficit, but the bank bailout”, considerando como inevitável uma intervenção externa e concluindo que “Ireland faced a painful choice between imposing a resolution on banks that were too big to save or becoming insolvent, and, for whatever reason, chose the latter. (...) From here on, for better or worse, we can only rely on the kindness of strangers”.

sábado, 6 de novembro de 2010

Pluralidade no debate ou tempo de antena ?

Corre pela internet uma petição pelo pluralismo de opinião no debate político-económico. É uma posição com que simpatizo, não só porque acredito nas virtudes de um debate franco e aberto em que se defrontem as várias posições e perspectivas para a própria ciência  económica, como penso que esse debate é ainda mais necessário num contexto de crise económica e financeira que está e irá continuar a conduzir a uma revisão do próprio quadro institucional de governação económica e financeira global e temo, pessoalmente, que, nomeadamente no contexto da União Europeia, essa revisão estará a ser dominada por um pensamento económico ortodoxo que não considero ser o mais adequado para a solução dos desafios que enfrentamos.

Julgo que o papel dinamizador desse debate deve caber sobretudo ao mundo académico, mas considero que também seria importante que esse debate fosse alaragado à sociedade em geral através dos meios de comunicação.

Mas, apesar disso, não subscrevi nem irei subscrever a petição. E não o farei porque considero que o debate deve ser vivo e até acalorado mas para que possa ser útil e frutuoso é necessário que haja, de todas as partes, um respeito mútuo pelas respectivas posições. Não é possível fazer qualquer debate sério e objectivo com o uso e abuso de uma retórica ad hominem, da caricatura e da distorção das posições dos  "adversários" que infelizmente abunda nos círculos que, nomeadamente na blogosfera, tem vindo a promover esta petição e que são exemplificados em posts como este ou este.

Respeito profundamente as posições do Professor José Reis e do José Castro Caldas, que procuro sempre ouvir com toda a atenção. Mas não posso deixar de me sentir perturbado sobretudo pelo segundo post. Desde logo pelo título "Como o abaixo assinado a favor do pluralismo na informação já teve efeitos", pois pensava eu que a ideia era promover o "debate" mas parece que afinal se trata de defender a "pluralidade de informação" o que revela uma "confusão" perigosa entre "debate/comentário" e "informação". Mas o pior é a forma como o post revela um desprezo absoluto pelas outras posições expressas no programa e se caracteriza pelo uso de uma linguagem que de facto inviabiliza qualquer debate sério e objectivo. Algo que não é compatível com a utilização de expressões demasiado coloridas como "regabofe", "arrazoado de mentiras", "rouba os trabalhadores" ou "figurões do bloco central".

Sou completamente a favor de um debate político-económico mais alargado, mas não contem comigo para reinvidicar tempos de antena.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A importância da declaração de Deauville

Existe um aparente consenso que a recente subida da taxa de juro de Portugal e da Irlanda terá sido uma consequência da declaração franco-germânica do passado dia 18 de Outubro e em concreto da passagem em que se refere que defende a revisão dos Tratados para “The establishment of a permanent and robust framework to ensure orderly crisis management in the future, providing the necessary arrangements for an adequate participation of private creditors and allowing Member States to take appropriate coordinated measures to safeguard financial stability of the Euro area as a whole” (nosso sublinhado). Segundo esta tese, a declaração teria de alguma forma alterado as expectativas dos agentes quanto a uma eventual reestruturação da dívida pública detida por privados aumentando a percepção do risco e consequentemente fazendo subir os yields.

Embora esta declaração seja relevante, pessoalmente tenho algumas dificuldades em aceitar que seja a única, ou mesmo a principal, explicação para a recente subida dos yields das dívidas soberanas de Portugal e Irlanda. Com efeito, para além do facto que é mais evidente para Portugal da subida dos yields apenas se ter acentuado a partir do dia 26 de Outubro, a verdade é que a perspectiva de uma reestruturação da dívida - que muitos consideram inevitável no médio prazo - já era há muito referida como uma hipótese  e eram, igualmente, há muito mais do que evidentes as dificuldades políticas da Alemanha para aceitar quer participar em novas operações de assistência financeira quer para prolongar para além de 2012 o pacote concedido à Grécia. Além disso, deve notar-se que a declaração é suficientemente vaga para não implicar que qualquer ajuda deva ser sempre acompanhada por uma reestruturação da dívida detida por privados – o que seria obviamente uma estupidez - aspecto que talvez pudesse ter sido enfantizado.

Assim, sem negar a importância daquela declaração, o recente movimento das taxas de juro estará igualmente, senão mesmo fundamentalmente, relacionado com as notícias sobre o provável phasing-out das facilidades de financiamento junto do BCE que têm sido utilizadas de forma particularmente intensiva pelos bancos gregos, irlandeses e portugueses, bem como as notícias que têm chegado da Irlanda e que revelam a situação verdadeiramente dramática que este país enfrenta e que fizeram descolar as yields das obrigações irlandesas a 10 anos para níveis superiores a 7,5%.

Note-se, aliás, que este comportamento diferenciado das taxas de juros portuguesas e irlandesas - que nos últimos meses tinham evoluído de forma bastante sincronizada - é dificilmente compaginável com a tese de que a evolução recente dos yiels será atribuível em quase exclusivo à declaração de Deauville e aponta para a importância de factores específicos intrinsecos à diferente situação de cada país.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Yield das OT's a 10 anos

O yield das OT's a 10 anos voltou hoje a subir, fechando nos 6,61%. Estamos a apenas 39 pb do limiar dos 7%.

O factor Irlanda - que ao final do dia de hoje anunciou que mesmo com a ajuda de um "pequeno" truque contabilístico o ajustamento a efectuar para atingir um défice de 9,25% do PIB em 2011 será de 6 mil milhões de euros - a notícia de que os fundos soberanos da Noruega e Rússia retiraram a dívida dos países periféricos da zona euro da sua lista de compras, bem como a revisão em baixa do crescimento mundial vai afinal e a valorização do euro não ajudaram, mas há pelo menos duas coisas que nunca se devem fazer num dia destes porque apenas podem contribuir para piorar a situação:

1.º Dizer ao FT que a subida dos yields é um movimento especulativo sem justificação económica porque isso é automaticamente interpretado pelos mercados como uma sintoma de negação da realidade e de que o Governo não está preparado para tomar medidas adicionais que eventualmente se venham a justificar.

2.º Dizer no dia a seguir à aprovação na generalidade através de um acordo conseguido a ferros que afinal não será suficiente a redução do défice para 4,6% e que a Comissão irá "encorajar" o Governo português a obter uma redução do défice superior à estimada.

Política monetária quantitativa

Correspondendo aquelas que eram as expectativas do mercado a Reserva Federal anunciou a sua intenção de adquirir 600 mil milhões de USD de títulos do tesouro de longo prazo até ao final do 2.º trimestre de 2011, a um ritmo de cerca de 75 mil milhões de USD por mês.

Econbrowser apresentou recentemente dois posts com os argumentos a favor e contra estas medidas que Krugman e Brad deLong já vieram considerar como insuficiente.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A evolução do juro da dívida pública

Contrariamente ao que seriam as expetactivas dos muitos que esperariam que o acordo para a viabilização do OE para 2011 permitisse um alívio dos custos de financiamento, as taxas de juro da dívida pública portuguesa registaram hoje um novo aumento da taxa de juro das OT's portuguesas com o yield das obrigações a 10 anos a situar-se nos 6,24%.

Comentando este fenómeno o nosso primeiro-ministro terá referido que esta subida seria "função de um comportamento especulativo que nada tem de justificação do ponto de vista económico".

E com efeito trata-se de um movimento que afecta não apenas Portugal, mas também outros países periféricos da zona euro, com destaque para a Irlanda cujas OT's a 10 anos atingiram hoje um máximo histórico de 7,3%. Na verdade esta recente subida parece estar a ser motivada pelos receios de que o BCE venha a reduzir substancialmente as facilidades que tem vindo a conceder no financiamento ao sistema bancário dos países. Segundo Alphaville (um blog do FT) "Deutsche [Bank] reckons that for Ireland, Portugal, Spain and Greece a return to a pre-crisis (early 2007) average level of ECB funding would imply banks would have to shift some €82bn, €50bn, €103bn and €90bn, respectively of ECB funding to more (ahem) market-based sources" o que no caso de Portugal corresponde a cerca de 30% do PIB.

Para além das consequências económicas de um eventual "credit crunch" no caso do BCE alterar, como é previsivel que o venha a fazer, as facilidades de financiamento que tem vindo a conceder tal terá efeitos no mercado de dívida pública dado o papel que os bancos destes países têm vindo a desempenhar nestes mercados. De acordo com Alphaville um estudo do Citi indica que "banks in peripheral countries substantially increased their holdings of domestic government bonds over the past year – by a very large 88% in Portugal, 20% in Greece and Ireland, 13% in Spain and by 20% in Italy" referindo que "there has come a rising reliance on domestic banks, which in turn are still highly reliant on ECB funding".

Ora, infelizmente, Portugal aparece mencionado com algum destaque nesta "narrativa" e por isso não é por acaso que é um dos países afectados por este novo aumento dos yields da dívida pública.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Yields da dívida pública

Apesar do acordo para a viabilização do Orçamento do Estado para 2011, a verdade é que os yields da dívida pública portuguesa a 10 anos estão hoje a subir, situando-se novamente acima dos 6 %. O que parece estar relacionado com as preocupações com a situação na Irlanda e também por notícias como esta que enfatizam as dificuldades que Portugal enfrenta.

ISM

Os dados do ISM para Outubro foram bastante robustos com uma subida de 2,5 pontos (para 56,5) no PMI e um aumento de 7,8 pontos (para 58,9) na componente de novas encomendas, o que indica uma reaceleração do crescimento da indústria transformadora nos EUA e constitui um excelente resultado depois da evolução decepcionante em Setembro.