terça-feira, 18 de agosto de 2009

A evolução do emprego na última legislatura

Os recentes números sobre o desemprego divulgados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional que indicam que o número de desempregados ascende a quase meio milhão vieram colocar na agenda a evolução do emprego nesta legislatura e recordar a famosa promessa de criação de 150 mil empregos.
Uma primeira curiosidade é que não há um consenso quanto ao que na altura terá sido prometido. Embora literalmente a promessa dizia respeito ao número de empregos foi na altura generalizadamente entendida (sem que me recorde de ter existido qualquer preocupação para clarificar a confusão) como uma promessa de redução do desemprego (que havia aumentado 174 mil nos 3 anos anteriores). O que, num contexto em que a população activa aumente, são coisas bastante diferentes.
Com efeito, comparando os dados do 1.º trimestre de 2009 com os do 1.º trimestre de 2005 (para evitar problemas de sazonalidade) verificamos que a população activa aumentou 87,8 milhares, que a população empregada aumentou apenas 4,6 milhares e que o número de desempregados 83,2 milhares (o que corresponde a uma subida do desemprego de 1,4 pontos percentuais). Ou seja, apesar do emprego ter aumentado o número de desempregados aumentou substancialmente em virtude do aumento da população.
Os defensores do Governo referem que a responsabilidade é da crise e que se não fosse a crise a promessa teria sido provavelmente cumprida. E de facto estabelecendo a comparação com os dados do 1.º trimestre de 2008 vemos que o emprego aumentou tinha aumentado 96,6 milhares. Sucede no entanto que como a população activa tinha aumentado 111 milhares o número de desempregados tinha mesmo assim aumentado 14,4 milhares e a taxa de desemprego subido 0,1 pontos percentuais.
Ou seja, em condições normais e como a população activa tende ter um comportamento pró-ciclico 150 mil empregos teria sido aproximadamente o número necessário para que o desemprego se mantivesse mais ou menos estável o que embora possa corresponder à “letra” do prometido dificilmente poderia ser considerado um objectivo ambicioso.
Curiosamente, aceitando o sentido literal da promessa há um parâmetro em que no 1.º trimestre de 2008 a promessa poderia ser considerada cumprida. É que naquele período de 3 anos o número de trabalhadores por conta de outrem aumentou em 157,8 milhares. Convém, no entanto, notar que tal aumento se deveu exclusivamente ao aumento dos contratados com termo (+ 153,4 milhares) e outras situações, onde se incluem os “trabalhadores a recibos verdes”, (+ 27 milhares) tendo o número de contratados sem termo registado uma redução de 22,6 milhares.

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