Grande parte das análises parecem assumir que a crise actual resulta "apenas" de uma redução da procura agregada derivada da escassez de crédito que por sua vez resultaria dos problemas no sector financeiro (e eventualmente, do efeito de riqueza resultante da desvalorização dos activos - bolsas e imobiliário). Nesta óptica o remédio era relativamente simples: estimule-se a procura agregada seja através da política monetária seja através da política orçamental (investimento público ou redução de impostos) e o problema resolver-se-ia. No entanto, sem descurar a importância daqueles efeitos, actual crise reflecte também desequilíbrios na estrutura económica que pela sua natureza demorarão a ser corrigidos. A actual crise vai implicar uma alteração da estrutura da despesa nos EUA - mas não só (menos imobiliário, menos bens duradouros e menos serviços financeiros) à qual a oferta (nos EUA e no resto do mundo) vai ter que se adaptar. E esta adaptação implica uma enorme destruição de capital físico, financeiro e humano. Apenas para ilustrar, por exemplo a menor procura de automóveis significa que a produção se terá que reduzir o que implica fábricas e equipamento subutilizado que não será facilmente reconvertido, trabalhadores no desemprego (desperdiçando o capital humano acumulado), redução do valor das acções e, particularmente se ocorrerem falências, redução dos valor dos créditos concedidos a esse sector. Assim, uma parte da redução do PIB corresponde a uma redução do produto potencial o que, a ser verdade, significa que a retoma será mais lenta e que, embora no curto prazo a ameaça continue a ser a da deflação, a médio prazo existem dois riscos significativos:
1) de aumento da inflação decorrentes do efeito de políticas monetárias e orçamentais (daí que seja particularmente importante que estas medidas serem reversíveis);
2) de a taxa de crescimento tender a voltar a cair à medida que se esgotem os efeitos dos estímulos monetário e orçamentais (podendo verificar-se um fenómeno do tipo "stop & go" sucessivo).
Assumindo que os estímulos funcionam, existem pois riscos não desprezíveis da recuperação ser seguida de um período consideravelmente longo de estagflação, caso seja possível restaurar o sistema financeiro, ou de estag-deflação, no caso contrário.
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