Obrigações profiussionais obrigaram-me a estar fora do país nas últimas duas semanas. Se por um lado estive menos atento às notícias (particularmente nacionais), por outro tive algum tempo para reflectir um pouco sobre a evolução da economia.
Parafraseando Mark Twain penso que as notícias da morte do euro tem sido MUITO exageradas, mas estou (ainda) mais pessimista em relação à evolução da economia mundial no futuro próximo. Não tanto pela depreciação do euro (que até pode ser positiva), nem sequer pela queda das bolsas (uma correcção até pode ser saudável), mas porque além da evidente crise de confiança nas dívidas públicas de alguns países e a inevitabilidade da "consolidação" orçamental nas principais economias mundias (EUA, Reino Unido, Zona euro e Japão) existem alguns sinais preocupantes vindos da Ásia (onde parecem existir sinais claros de que a evolução do sector imobiliário na China é insustentável e a inflação na India continua a preocupar) e, sobretudo, por causa dos sinais muito claros de que a alavancagem (leia-se niveis de endividamento) é ainda demasiado elevada e que o processo de desalavancagem terá de continuar por mais algum (bastante?) tempo.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Argentina
A surpreendente admiração de alguns pelo "modelo" argentino - que levou a uma queda do PIB de 11%, inflacao de 41%, desemprego de quase 30% - levou-me a recuperar este artigo de Stiglitz de Maio de 2002 em que analisa as causas da crise Argentina (para outra visão recomendo este artigo de Domingo Cavallo que foi o ideólogo do plano de convertibilidade do peso face ao dolar).
Neste artigo Stiglitz argumenta que a convertibilidade do peso face ao dolar estava destinada a falhar referindo que: "Fixed exchange rates have never worked. Even the United States couldnt live with a fixed exchange rate, going off the peg to gold in the midst of the Great Depression". Pode-se dizer que dada as interligações aue resultam do funcionamento do mercado interno a situacao de Portugal (bem como a da Grecia e Espanha) é substancialmente diferente da situacao da Argentina, mas a verdade é que os desequilibrios externos apontam para a existencia de problemas que são fundamentalmente similares.
Neste artigo Stiglitz argumenta que a convertibilidade do peso face ao dolar estava destinada a falhar referindo que: "Fixed exchange rates have never worked. Even the United States couldnt live with a fixed exchange rate, going off the peg to gold in the midst of the Great Depression". Pode-se dizer que dada as interligações aue resultam do funcionamento do mercado interno a situacao de Portugal (bem como a da Grecia e Espanha) é substancialmente diferente da situacao da Argentina, mas a verdade é que os desequilibrios externos apontam para a existencia de problemas que são fundamentalmente similares.
Um segredo de Polichinelo
As declarações do presidente do FMIBPI mais não fizeram do que dizer em voz alta e publicamente aquilo que os mercados já há bastante tempo têm vindo a "dizer", pelo que não só me parece sinceramente ridícula a reacção de varios banqueiros, como pelo contrario me parece util e mesmo indispensável que o público em geral seja informado da gravidade de uma situação, em que a necessidade de recurso ao novo fundo europeu e ao FMI parece cada vez mais provável.
sábado, 15 de maio de 2010
O pacote de austeridade
Aumento de 1 ponto percentual em todas as taxas do IVA, adicionais no IRS e IRC e corte nas despesas.
É este no essencial o pacote que o Governo, caucionado pelo PSD, aprovou com o objectivo de reduzir o défice para 7,3% em 2010 e 4,6% em 2011. O que se se vier a concretizar significa uma redução do défice de quase 5 pontos percentuais em dois anos constituindo um ajustamento orçamental bastante forte, particularmente se como se teme o crescimento do produto for fraco.
Mas significa também que o ajustamento terá ainda de continuar nos anos seguintes, pelo que é de esperar que estas medidas (ou eventualmente outras que as venham substituir) se venham, pelo menos, a manter durante vários anos.
Neste sentido, pode-se, por exemplo, discutir os escalões dos impostos e a decisão de aumentar o IVA em todas as taxas em vez de, eventualmente, ter subido mais fortemente a taxa normal. Sobretudo porque constituem factores que tendem a atenuar a progressividade do sistema fiscal.
Parece-me, no entanto, positivo que as medidas repartam o esforço por vários impostos e ao longo dos vários meses do ano, o que me parece que, por um lado, poderá ajudar a suavizar o seu efeito recessivo sobre a procura interna e, por outro lado, facilitará a manutenção das medidas por um período mais prolongado.
É este no essencial o pacote que o Governo, caucionado pelo PSD, aprovou com o objectivo de reduzir o défice para 7,3% em 2010 e 4,6% em 2011. O que se se vier a concretizar significa uma redução do défice de quase 5 pontos percentuais em dois anos constituindo um ajustamento orçamental bastante forte, particularmente se como se teme o crescimento do produto for fraco.
Mas significa também que o ajustamento terá ainda de continuar nos anos seguintes, pelo que é de esperar que estas medidas (ou eventualmente outras que as venham substituir) se venham, pelo menos, a manter durante vários anos.
Neste sentido, pode-se, por exemplo, discutir os escalões dos impostos e a decisão de aumentar o IVA em todas as taxas em vez de, eventualmente, ter subido mais fortemente a taxa normal. Sobretudo porque constituem factores que tendem a atenuar a progressividade do sistema fiscal.
Parece-me, no entanto, positivo que as medidas repartam o esforço por vários impostos e ao longo dos vários meses do ano, o que me parece que, por um lado, poderá ajudar a suavizar o seu efeito recessivo sobre a procura interna e, por outro lado, facilitará a manutenção das medidas por um período mais prolongado.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Artigo de Krugman
A primeira reacção dos mercados foi bastante positiva. Pessoalmente, tendo a concordar com Krugman quer quando diz que só por si este plano não resolve o problema económico fundamental e quando refere que o facto mais relevante do plano será a actuação do BCE no mercado da dívida.
Julgo contudo que Krugman não valoriza suficentemente dois aspectos que me parecem fundamentais. Em primeiro lugar, o plano embora fruto de algum sentimento de desespero demonstra uma determinação e uma capacidade política que constitui em si mesmo um facto relevante. E em segundo lugar, face à evolução das últimas semanas era fundamental fazer algo para ganhar tempo, resta ver como esta margem de manobra será utilizada.
Julgo contudo que Krugman não valoriza suficentemente dois aspectos que me parecem fundamentais. Em primeiro lugar, o plano embora fruto de algum sentimento de desespero demonstra uma determinação e uma capacidade política que constitui em si mesmo um facto relevante. E em segundo lugar, face à evolução das últimas semanas era fundamental fazer algo para ganhar tempo, resta ver como esta margem de manobra será utilizada.
Plano europeu para a estabilização financeira
Na sequência da instabilidade financeira da semana passada, o Conselho ECOFIN aprovou ontem, em reunião extraordinária, um plano massivo para garantir a "estabilidade financeira na Europa". Fundamentalmente, o plano prevê a concessão de ajudas financeiras ao abrigo do artigo 122..º, n.º 2, do Tratado sobre o Funcionamento da UE que estabelece que "Sempre que um Estado-Membro se encontre em dificuldades ou sob grave ameaça de dificuldades devidas a calamidades naturais ou ocorrências excepcionais que não possa controlar, o Conselho, sob proposta da Comissão, pode, sob certas condições, conceder ajuda financeira da União ao Estado-Membro em questão" e assenta em dois mecanismos:
- possibilidade de empréstimos no montante até € 60 mil milhões;
- criação de um "fundo" de € 440 mil milhões que se destina a complementar aquele montante. Este fundo será garantido pelos Estados da zona euro numa base pro-rata.
Estes fundos deverão ser ainda complementados com fundos facultados pelo FMI, pelo que o pacote global poderá ascender a cerca de € 750 mil milhões de euros.
Note-se que a activação destas linhas de financiamento estará sujeita a "forte condicionalidade" (e.g., à aplicação de medidas de austeridade) sendo ainda de salientar que o ECOFIN acordou que os planos de "consolidação fiscal e reformas estruturais" deveriam ser acelerados e "agradeceu e apoiou fortemente" o compromisso de Portugal e Espanha de tomar medidas adicionais substanciais de consolidação já em 2010 e em 2011 que deverão apresentar no ECOFIN do próximo dia 18 de Maio.
Entretanto, paralela e decisivamente, o Banco Central Europeu anunciou que "dadas as cirscunstâncias excepcionais" conduzir operações nos mercados de dívida pública e privada, a sua disponibilidade para ceder liquidez ilimitada aos bancos e a reactivação das linhas de swaps com a Reserva Federal que lhe permitirá ceder liquidez em dólares já a partir de amanhã.
- possibilidade de empréstimos no montante até € 60 mil milhões;
- criação de um "fundo" de € 440 mil milhões que se destina a complementar aquele montante. Este fundo será garantido pelos Estados da zona euro numa base pro-rata.
Estes fundos deverão ser ainda complementados com fundos facultados pelo FMI, pelo que o pacote global poderá ascender a cerca de € 750 mil milhões de euros.
Note-se que a activação destas linhas de financiamento estará sujeita a "forte condicionalidade" (e.g., à aplicação de medidas de austeridade) sendo ainda de salientar que o ECOFIN acordou que os planos de "consolidação fiscal e reformas estruturais" deveriam ser acelerados e "agradeceu e apoiou fortemente" o compromisso de Portugal e Espanha de tomar medidas adicionais substanciais de consolidação já em 2010 e em 2011 que deverão apresentar no ECOFIN do próximo dia 18 de Maio.
Entretanto, paralela e decisivamente, o Banco Central Europeu anunciou que "dadas as cirscunstâncias excepcionais" conduzir operações nos mercados de dívida pública e privada, a sua disponibilidade para ceder liquidez ilimitada aos bancos e a reactivação das linhas de swaps com a Reserva Federal que lhe permitirá ceder liquidez em dólares já a partir de amanhã.
sábado, 8 de maio de 2010
Mecanismo Europeu de Estabilização
Na declaração do Conselho Europeu de ontem refere-se que "tendo em conta as circunstâncias excepcionais, a Comissão irá propor um mecanismo europeu de estabilização para preservar a estabilidade financeira na Europa. Esse mecanismo será decidido numa reunião extraordinária do ECOFIN que a Presidência espanhola convocará para este domingo, 9 de Maio", não sendo claros os detalhes nem sequer os objectivos concretos desse mecanismo que deverá estar em vigor na segunda-feira.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
O discurso de Vitor Constâncio
É um imenso prazer ler este discurso que foi proferido por Vitor Constâncio no passado dia 5 de Maio, brilhante na forma como aborda a questão da construção europeia e interessante pela descrição que faz da história económica recente de Portugal.
É, no entanto, demasiado marcado pela preocupação em desresponsabilizar o Banco de Portugal (e o seu Governador) relativamente a essa evolução, nomeadamente quando refere, citando declarações de 2004 (ou seja após a recessão de 2003) que "the initial boom of private expenditure was as unavoidable as the subsquent fall and adjustment" (meu sublinhado) e sobretudo quando cita uma afirmação de Kenneth Rogoff de que "Financial regulation has been appropraite, otherwise the situation would be much worse".
Confesso que tenho alguma dificuldade intelectual em conciliar estas duas passagens com as lições que o próprio Governador retira da actual crise quando refere que "The crisis made clear that monetary policy focused on price satbility had to be complemented with new instruments of macro-prudential policies to ensure finacial satbility and asset markets less prone to prone bubbles" (parece que acredita que afinal talvez seja possível evitar o inevitável) e considera que é necessário "a complete overhaul of regulation of the financial sector" (aparentemente reconhecendo que a regulação financeira extistente afinal talvez não fosse assim tão apropriada).
É, no entanto, demasiado marcado pela preocupação em desresponsabilizar o Banco de Portugal (e o seu Governador) relativamente a essa evolução, nomeadamente quando refere, citando declarações de 2004 (ou seja após a recessão de 2003) que "the initial boom of private expenditure was as unavoidable as the subsquent fall and adjustment" (meu sublinhado) e sobretudo quando cita uma afirmação de Kenneth Rogoff de que "Financial regulation has been appropraite, otherwise the situation would be much worse".
Confesso que tenho alguma dificuldade intelectual em conciliar estas duas passagens com as lições que o próprio Governador retira da actual crise quando refere que "The crisis made clear that monetary policy focused on price satbility had to be complemented with new instruments of macro-prudential policies to ensure finacial satbility and asset markets less prone to prone bubbles" (parece que acredita que afinal talvez seja possível evitar o inevitável) e considera que é necessário "a complete overhaul of regulation of the financial sector" (aparentemente reconhecendo que a regulação financeira extistente afinal talvez não fosse assim tão apropriada).
As declarações de Trichet
Aproveitando a (relativa) acalmia dos mercados (que se espera que continue pelo menos até serem divulgados os dados do emprego nos EUA) e em que tanto se tem dito sobre o impacto das declarações de Trichet sobre o mercado há um ponto dessas declarações que, quanto a mim, tem injustificadamente passado quase despercebido.
Refiro-me, concretamente, às referências que fez às "pressões inflaccionistas globais" relacionadas com a subida dos preços de matérias-primas mas, também, a subida da inflação nas economias emergentes (e.g., India e China) que têm sido o principal motor de crescimento da economia mundial.
A presença destas "pressões inflaccionistas" significa, por um lado, que o crescimento nesses países (deverá) ser mais moderado na medida em que para as conter esses países serão forçados a adoptar políticas monetárias e, eventualmente, orçamentais mais restritivas com reflexos na evolução da procura global ou, caso isso não suceda, a possibilidade de importação dessa inflação (via aumento das matérias-primas e/ou desvalorização da taxa de câmbio) com um efeito sobre a taxa de inflação na zona euro que pode levar a uma subida das taxas de juro do BCE mais cedo que o anteriormente antecipado e, por outro lado, reduzir a vontade/capacidade do BCE para em caso de necessidade promover as políticas de expansão quantitativa através da aquisição de dívida pública que alguns economistas têm vindo a sugerir.
Refiro-me, concretamente, às referências que fez às "pressões inflaccionistas globais" relacionadas com a subida dos preços de matérias-primas mas, também, a subida da inflação nas economias emergentes (e.g., India e China) que têm sido o principal motor de crescimento da economia mundial.
A presença destas "pressões inflaccionistas" significa, por um lado, que o crescimento nesses países (deverá) ser mais moderado na medida em que para as conter esses países serão forçados a adoptar políticas monetárias e, eventualmente, orçamentais mais restritivas com reflexos na evolução da procura global ou, caso isso não suceda, a possibilidade de importação dessa inflação (via aumento das matérias-primas e/ou desvalorização da taxa de câmbio) com um efeito sobre a taxa de inflação na zona euro que pode levar a uma subida das taxas de juro do BCE mais cedo que o anteriormente antecipado e, por outro lado, reduzir a vontade/capacidade do BCE para em caso de necessidade promover as políticas de expansão quantitativa através da aquisição de dívida pública que alguns economistas têm vindo a sugerir.
terça-feira, 4 de maio de 2010
A crise continua
Apesar da sua dimensão, a decisão de apoio financeiro à Grécia não foi suficiente para "acalmar" os mercados, continuando a existir uma forte pressão sobre as dívidas públicas grega, portuguesa e espanhola.
Netse momento existe um claro problema de credibilidade da zona euro face sobretudo à dimensão de um eventual plano de apoio financeiro a Espanha que os mercados acreditam ser incomportável. Aparentemente parecem existir poucas razões para essa desconfiança, pois se é verdade que o défice público de Espanha (-11,2% do PIB) se situa entre os mais elevados da União Europeia, na verdade a díuvida pública (53,2% do PIB em 2009) é relativamente baixa (sendo inclusive bastante inferior à da Alemanha que atinge 73,2% do PIB). Sendo de realçar que, por exemplo, o Reino Unido com um défice de -11,5% e uma dívida pública de 68,1% do PIB regista indicadores claramente piores.
O que justifica então que os mercados "ataquem" a dívida pública espanhola e não (pelo menos por enquanto) a dívida pública do Reino Unido, O problema está em que os mercados desconfiam da possibilidade de Espanha e Portugal (para já não falar da Grécia) consigam fazer os ajustamentos económicos necessários para evitar uma situação de incumprimento no contexto do "espartilho" que resulta da existência de uma moeda única e da consequente impossibilidade de desvalorizar a moeda que como refere Krugman neste artigo recente lhes retirou flexibilidade para responder aos "acontecimentos". Havendo vários economistas que profetizam mesmo um cenário de fim do euro ou, pelo menos, cenários potencialmente catastróficos.
E o pior é que esta falta de credibilidade tende a ser self-fulfilling na medida em que agrava significativamente as condições de acesso ao crédito podendo no limite colocar em risco a possibilidade de (re)financiamento da dívida pública dos países ibéricos.
Netse momento existe um claro problema de credibilidade da zona euro face sobretudo à dimensão de um eventual plano de apoio financeiro a Espanha que os mercados acreditam ser incomportável. Aparentemente parecem existir poucas razões para essa desconfiança, pois se é verdade que o défice público de Espanha (-11,2% do PIB) se situa entre os mais elevados da União Europeia, na verdade a díuvida pública (53,2% do PIB em 2009) é relativamente baixa (sendo inclusive bastante inferior à da Alemanha que atinge 73,2% do PIB). Sendo de realçar que, por exemplo, o Reino Unido com um défice de -11,5% e uma dívida pública de 68,1% do PIB regista indicadores claramente piores.
O que justifica então que os mercados "ataquem" a dívida pública espanhola e não (pelo menos por enquanto) a dívida pública do Reino Unido, O problema está em que os mercados desconfiam da possibilidade de Espanha e Portugal (para já não falar da Grécia) consigam fazer os ajustamentos económicos necessários para evitar uma situação de incumprimento no contexto do "espartilho" que resulta da existência de uma moeda única e da consequente impossibilidade de desvalorizar a moeda que como refere Krugman neste artigo recente lhes retirou flexibilidade para responder aos "acontecimentos". Havendo vários economistas que profetizam mesmo um cenário de fim do euro ou, pelo menos, cenários potencialmente catastróficos.
E o pior é que esta falta de credibilidade tende a ser self-fulfilling na medida em que agrava significativamente as condições de acesso ao crédito podendo no limite colocar em risco a possibilidade de (re)financiamento da dívida pública dos países ibéricos.
domingo, 2 de maio de 2010
Fumo branco
Foi aprovado um pacote de financiamento de 110 mil milhões de euros que os países da zona euro e o FMI irão conceder à Grécia para evitar a ruptura financeira das finanças públicas gregas que estava iminente. O montante agora aprovado deve permitir que a Grécia não necessite de recorrer ao mercado para se (re)financiar nos próximos 3 anos.
A contrapartida grega foi a aceitação de um plano draconiano para reduzir o défice público para menos de 3% do PIB até ao final de 2014, que inclui subida dos impostos (nomeadamente, uma subida da taxa do IVA em 2 pontos percentuais para 23%, do tabaco e gasolina), redução dos salários dos funcionários públicos e nas pensões (com cortes do 13.º e 14.º meses), que não deixarão de ter efeitos sobre a procura e tornam bastante sombrias as perspectivas económicas para aquele país cujo PIB deverá cair 4% em 2010, sendo que em qualquer caso as consequências de uma ruptura financeira seriam provavelmente ainda mais graves.
A solução representa um alívio para os detentores de dívida pública grega, e deverá beneficiar a posição da dívida pública de outros países como Portugal, Espanha e Irlanda que eram apontados como países problemáticos na medida em que significa que revela que apesar de todas as hesitações foi possível encontrar uma solução, que pelo menos no caso de alguns países estará todavia ainda dependente de aprovação dos respectivos parlamentos.
A contrapartida grega foi a aceitação de um plano draconiano para reduzir o défice público para menos de 3% do PIB até ao final de 2014, que inclui subida dos impostos (nomeadamente, uma subida da taxa do IVA em 2 pontos percentuais para 23%, do tabaco e gasolina), redução dos salários dos funcionários públicos e nas pensões (com cortes do 13.º e 14.º meses), que não deixarão de ter efeitos sobre a procura e tornam bastante sombrias as perspectivas económicas para aquele país cujo PIB deverá cair 4% em 2010, sendo que em qualquer caso as consequências de uma ruptura financeira seriam provavelmente ainda mais graves.
A solução representa um alívio para os detentores de dívida pública grega, e deverá beneficiar a posição da dívida pública de outros países como Portugal, Espanha e Irlanda que eram apontados como países problemáticos na medida em que significa que revela que apesar de todas as hesitações foi possível encontrar uma solução, que pelo menos no caso de alguns países estará todavia ainda dependente de aprovação dos respectivos parlamentos.
sábado, 1 de maio de 2010
E você emprestava dinheiro a Portugal ?
Perdoem-me a "falta de patriotismo", mas a tese de que a Grécia e Portugal estão a ser "vítimas" de ataques especulativos não é minimamente convincente.
Se é verdade que os preços das obrigações tem vindo a descer significativamente com o consequente aumento dos "yields" e isso significa que agentes no mercado têm estado a vender títulos de dívida grega e portuguesa a estes preços, importa recordar que os preços só baixaram porque não existem compradores suficientes desses mesmos títulos. Mas, mesmo que admitindo a tese de que isso seria uma consequência de uma conspiração "especulativa", importaria ainda explicar porque razão os especuladores teriam decidido "atacar" a nossa dívida pública e perguntar se não haverá uma relação com o facto de termos o 5.º maior défice público da União Europeia, e o 6.º nível de endividamento público mais elevado no conjunto da União Europeia (Portugal, Grécia e Reino Unido eram os únicos três países no top 10 da União Europeia em ambos os indicadores) a que se juntam uma incapacidade revelada na última década para atingir níveis de crescimento económico razoáveis e contas externas numa trajectória insustentável.
Contrariamente ao que sucede no caso da Grécia ainda não teremos atingido o ponto de ruptura, mas não é menos verdade que se a nossa economia prosseguir no mesmo rumo, a ruptura será inelutável, enquanto que a nossa margem para corrigir esse rumo se reduz de dia para dia.
Admitindo que tenhamos a capacidade para evitar esse cenário comprar divida pública portuguesa aos níveis actuais será um excelente negócio. Infelizmente, nos últimos dias parece ter existido um número de agentes a acreditar que seja mesmo um bom negócio insuficente para evitar a subida da taxa de juro e como para que nos possamos continuar a financiar no mercado é necessário que exista quem esteja disposto a disponibilizar esses financiamentos a nossa situação é mesmo muito delicada.
Se é verdade que os preços das obrigações tem vindo a descer significativamente com o consequente aumento dos "yields" e isso significa que agentes no mercado têm estado a vender títulos de dívida grega e portuguesa a estes preços, importa recordar que os preços só baixaram porque não existem compradores suficientes desses mesmos títulos. Mas, mesmo que admitindo a tese de que isso seria uma consequência de uma conspiração "especulativa", importaria ainda explicar porque razão os especuladores teriam decidido "atacar" a nossa dívida pública e perguntar se não haverá uma relação com o facto de termos o 5.º maior défice público da União Europeia, e o 6.º nível de endividamento público mais elevado no conjunto da União Europeia (Portugal, Grécia e Reino Unido eram os únicos três países no top 10 da União Europeia em ambos os indicadores) a que se juntam uma incapacidade revelada na última década para atingir níveis de crescimento económico razoáveis e contas externas numa trajectória insustentável.
Contrariamente ao que sucede no caso da Grécia ainda não teremos atingido o ponto de ruptura, mas não é menos verdade que se a nossa economia prosseguir no mesmo rumo, a ruptura será inelutável, enquanto que a nossa margem para corrigir esse rumo se reduz de dia para dia.
Admitindo que tenhamos a capacidade para evitar esse cenário comprar divida pública portuguesa aos níveis actuais será um excelente negócio. Infelizmente, nos últimos dias parece ter existido um número de agentes a acreditar que seja mesmo um bom negócio insuficente para evitar a subida da taxa de juro e como para que nos possamos continuar a financiar no mercado é necessário que exista quem esteja disposto a disponibilizar esses financiamentos a nossa situação é mesmo muito delicada.
Subscrever:
Mensagens (Atom)