sábado, 13 de março de 2010

Dois artigos a não perder

Este de Vitor Bento (via Pedro Lains) (que, passe a imodéstia, vai no sentido que tenho vindo a preconizar (ver aqui) e tem sido defendido por Martin Wolf do FT e que vai na linha do pensamento de Paul Krugman) do qual ressalto

"ao nível colectivo têm que ser asseguradas as condições para que o efeito inevitavelmente recessivo dos ajustamentos orçamentais e económicos, que os países em causa terão que efectuar, em simultâneo, num período relativamente reduzido e num contexto de deprimida procura mundial, se não torne numa espiral contraccionista. Espiral essa que, por um lado, poderá anular o impacto dos ajustamentos (ou exigir a sua insustentável exponenciação) e tornar a situação ainda mais insustentável, e, por outro lado, pode contagiar toda a zona euro, remetendo-a novamente para a recessão.
Para prevenir essas consequências, é necessário que os países em melhor situação financeira - contas públicas e contas externas - actuem compensatoriamente em sentido inverso, estimulando a sua procura interna. E, aqui, o principal papel tem que ser desempenhado pela Alemanha e, dada a sua elevada propensão a poupar, o estímulo necessário será mais eficaz se vier do aumento da despesa do que da redução dos impostos."
chamando, no entanto, a atenção para que o ajustamento se concretize será necessária a conjugação de duas disponibilidades:

De um lado, a do BCE para deixar inflacionar a zona euro (acima dos 2% que são a sua referência superior). E, de outro lado, a dos países debilitados, para assegurar um estrito controlo de preços nos seus sectores não transaccionáveis, não permitindo que estes acompanhem a inflação da zona euro (a concorrência internacional encarregar-se-á de "controlar" o sector transaccionável).
Não podia concordar mais, apenas chamando à atenção para que na realidade os desequillibrios na zona euro se inserem no problema mais vasto dos desequilíbrios globais e que seria igualmente útil como temn vindo a ser defendido por Krugman uma apreciação real das moedas das economias asiáticas, nomeadamente  da China, face quer ao dólar quer ao euro.


O outro artigo que recomendo é este ontem publicado no FT da autoria do Ministro das Finanças Alemão Wolfgang Schauble, que julgo particularmente interessante porque: i) admite expressamente a criação de instituições (o tal Fundo Monetário Europeu) para auxiliar as economias em situação financeira dificil, considerando essa situação preferível à intervenção do FMI (o que tem sido muito discutido), como resulta claramente da parte em que refere que: "Eurozone members could also be granted emergency liquidity aid from a «European monetary fund» to reduce the risk of defaults"; e ii) simultaneamente define com bastante clareza as condições para a Alemanha aceitar essa possibilidade:  "Strict conditions and a prohibitive price tag must be attached so that aid is only drawn in the case of emergencies that present a threat to the financial stability of the whole euro area (...) Emergency aid could also be coupled on a mandatory basis with stricter sanction within the framework of budget defict proceedings. Monetary penalities could be imposed immediately and, once the aid and cooling-off period end, enforced against the member state without recourse to reclaim the fine".

O resto do texto nomeadamente a parte muito falada de que "Should a eurozone member ultimately find itself unable to consolidate its budgets or restore its competitiveness, this country should, as a last resort, exit the monetary union", parece-me sinceramente sobretudo para consumo político no debate interno alemão.

1 comentário:

Fábio disse...

"Should a eurozone member ultimately find itself unable to consolidate its budgets or restore its competitiveness, this country should, as a last resort, exit the monetary union" ... suponho que não há grandes alternativas, sobretudo politicamente admissíveis para o país em "falta".