quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A diferença entre sucesso e falhanço

Martin Wolf não é conhecido pelo seu optimismo mas a sua coluna no FT de hoje é particularmente negra: 
"So what happens next? We can identify two alternatives: sucess and failure.
By «success» I mean reignition of the credit engine in high income deficit countries. So private sector spending surges anew, fiscal deficits shrinks and economy appears to be going back to normal, at last. By «faillure» I mean that deleveraging continues, private spending falls to pick up with any real vigour and fiscal deficits remain far bigger, for far longer, than almost anybody now dares to imagine"
Mas se acham o falhanço assutador esperem até conhecerem quais serão segundo Martin Wolf as consequências do "sucesso":
"Unhappily the result of what I call success would probably be a still bigger financial crisis in the future"
Concluindo que:
"Either outcome ultimately leads us to a sovereign debt crisis. This in turn, would surely result in defaults, probably via inflation. In essence, stretched balance sheets threaten mass private sector bankruptcy and a depression, or sovereign bankruptcy and inflation or some combination of the two"
A vantagem de ter alguém conceituado a escrever assim é que posso fazer figura de optimista. Na verdade tenho bastante consideração por Martin Wolf que foi um dos (poucos) que há vários anos têm sistematicamente chamado a atenção para os desequilíbrios da economia internacional e concordo no essencial não apenas com o seu diagnóstico da actual situação como com a posição que sistematicamente vem defendendo de ser necessario um aumento da procura interna nos países superavitários (basicamente, Alemanha e países asiáticos).

O meu optimismo de hoje resulta fundamentalmente do gráfico que ele apresenta com a evolução da capacidade de financiamento do sector privado nos vários países da OCDE que apontam para um aumento substancial da capacidade de financiamento do sector privado nos países da OCDE.
Martin Wolf considera e correctamente que este aumento da capacidade de financiamento do sector privado pode representar uma ameaça de depressão.

Talvez dominado por esse facto, não reparou no facto de que, tal como necessário para o ajustamento que preconiza, esse aumento foi especialmente pronunciado nos precisamente países (nomeadamente Espanha, Irlanda, N. Zelândia, Reino Unido e Grécia com défices externos - a excepções são a Dinamarca e Noruega onde a capacidade de financiamento privado aumentou substancialmente apesar de serem países com superávites externos muito substanciais o que poderá eventualmente estar relacionado com a evolução do preço do petróleo) enquanto que os países da OCDE  onde a poupança privada menos aumento foram aqueles com posições externas favoráveis (Japão, Austria, Suíça, Canadá e Alemanha). O que significa que a evolução é compatível com o facto desse ajustamento inevitável estar já a decorrer.

Curiosamente, Portugal é um dos (poucos) países que destoa, pois apesar de ser um dos países onde o défice externo é reconhecidamente mais elevado encontra-se no grupo dos países onde o aumento da capacidade de financiamento do sector privado foi menos pronunciado.

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