sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Conjuntura económica degrada-se na União Europeia

O indicador de sentimento económico na União Europeia registou em Novembro uma queda de 6,7 pontos, situando-se agora nos 70,5 pontos o que corresponde ao valor mais baixo da série iniciada em Janeiro de 1985. A quebra na zona euro foi menos significativa (-5,1), no entanto o valor registado (74,9) é o mais baixo desde Agosto de 1993 e situa-se proximo do mínimo da série (73,0 verificado em Julho de 1993).
Por países, as maiores quedas registaram-se nos países da Europa de Leste e Central, com quedas particularmente pronunciadas na Eslovénia (-29,8), Hungria (-21,7), Roménia (-12,3), Eslováquia (-11,7) e Áustria (-11,5). Pelo contrário, Itália (-1,2), França (-1,3) e Portugal (-1,7) foram os Estados com quebras menos pronunciadas. Entre os grandes países destaque ainda para as descidas no Reino Unido (-8,8), na Alemanha (-6,3) e em Espanha (-2,8), sendo que a Espanha e o Reino Unido registaram os valores mais baixos das respectivas séries.
Enquanto que por sectores é de realçar a queda nos serviços (-7,7) e na indústria (-6).
A degradação dos indicadores de confiança conjugada com as estimativas da inflação também ontem divulgadas e que apontam para uma descida da taxa de inflação de 3,2% em Outubro para 2,1% em Novembro, tornam quase certa uma nova redução significativa (pelo menos 0,5 pp) das taxas de juro de referência do BCE.

PS: Os últimos dados publicados pela Comissão Europeia relativamente à Irlanda datam de Abril (!!!), altura em que o indice de confiança na construção tinha colapsado de -46 para -69.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Os efeitos da crise sobre as relações extra-maritais

O Wall Street Journal divulgou mais uma manifestação do impacto da crise que pode ter sérias repercussões no comércio de bens de luxo.

Um Plano de Recuperação para a Europa

A Comissão Europeia apresentou um plano de a proposta de acordo para um estímulo orçamental de 200 mil milhões de euros (cerca de 1,5% do PIB) dos quais 85% provirão dos orçamentos nacionais (170 mil milhões de euros) e apenas 15% (cerca de 30 mil milhões de euros) dos orçamentos da UE e do Banco Europeu de Investimento. Mais, esta contribuição "comunitária" consiste basicamente em acelerar ou adiantar programas que já estavam previstos. Por outro lado, não resulta claro dos documentos agora apresentados como será distribuído o esforço pedido aos orçamentos nacionais nem sequer a forma que esse estímulo revestirá, elencando-se apenas um conjunto de princípios e uma lista de possíveis medidas (denotando-se, no entanto, uma aparente preferência da Comissão por medidas de aumento temporário da despesa pública). Ou seja, na prática, a parte essencial do esforço vai ficar ao critério de cada Estado-Membro, existindo uma elevada probabilidade de que o valor real venha a ser substancialmente inferior ao anunciado e um sério risco que esses esforços venham a ser pouco coordenado. Note-se, ainda, que no documento se refere que o esforço deve ser efectuado no quadro do Pacto de Estabilidade revisto em 2005, o que significa que (alguns) Estados-Membros poderão exceder o limite de referência dos 3% para o défice público mas que devem assegurar a estabilidade orçamental no médio prazo.
Por outro lado o documento abre o caminho para apoios à indústria automóvel através da concessão de ajudas de Estado sob a forma de empréstimos bonificados (ou de garantias de empréstimos) para investimentos relacionados com a "protecção ambiental".

Indicadores nos EUA

As encomendas de bens duradouros em Outubro cairam 6,2% (!!) face a Setembro (e mais de 8% face à média do 3º trimestre) enqunato que as encomendas de bens de capital (excluindo defesa e aviões) se reduziram 4% (6,9% face à média do 3.º trimestre).
As vendas de casas (novas) cairam 5% face ao mês anterior atingindo o valor mais baixo desde Janeiro de 1991. Um pequeno sinal positivo foi a queda da relação entre o número de casas para venda e as vendidas que no entanto ainda se encontra num nível muito elevado (10,6 meses de procura face a uma média histórica rondando os 6 meses).
O indicador de confiança dos consumidores voltou a cair em Novembro de 57,6 para 55,3 (a média histórica situa-se em torno dos 90 pontos).
Finalmente o BEA divulgou que o consumo nominal terá caído em Outubro 1% face a Setembro, sendo que a queda do consumo real se terá situado em cerca de 0,5% (0,8% face à média do 3º trimestre).
Os indicadores ontem divulgados apontam para uma deterioração muito significativa da situação económica dos EUA sendo provável que a queda do PIB no 4.º trimestre venha a ser a mais acentuada desde o período 1980-81.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Reserva Federal anunciou novas iniciativas

Numa clara tentativa de apoiar a concessão de crédito à economia, a Reserva Federal anunciou ontem um nova linha de crédito denominada TALF (Term Asset- Backed Loan Facility) ao abrigo da qual se dispõe a emprestar até 200 mil milhões de USD aos detentores de títulos com rating AAA baseados em novos (ou recentes) empréstimos ao consumo ou Às empresas novos ou recentes e, paralelamente, anunciou também a aquisição de 600 mil milhões de USD de activos hipotecários detidos pela Fannie Mae e Freddie Mac.

Preço dos imóveis nos EUA

De acordo com o indice Case-Shiller o preço dos imóveis nas 20 maiores metrópoles dos EUA desceu 1,8% em Setembro elevando a descida homóloga para 17,4%. Apesar da queda de 27,4% face ao valor máximo registado em Julho de 2006, os preços reais estão ainda 25% acima dos que se verificavam em 2000.

Entretanto, os dados revistos divulgados ontem para o PIB indicam que no 3º trimestre o PIB dos EUA se contraiu 0,5% (taxa anualizada) com o consumo a cair 3,7% e o investimento 5,6%.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

EUA "salvam" Citigroup

O governo dos EUA foi forçado a intervir para salvar o Citigroup "protegendo" 306 mil milhões de USD de "activos téxicos" em troca de 7 mil milhões de USD em acções preferenciais e injectando 20 mil milhões de USD através de acções preferenciais. Estas acções terão um dividendo de 8% (o que representa mais de 2 mil milhões de USD por ano) e o Citigroup fica impedido de distribuir dividendos (às acções ordinárias) superiores a 1 centimo por acção durante 3 anos sem autorização do governo dos EUA.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Construcão nos EUA atinge minimo desde 1959

Os dados ontem divulgados indicam que o numero de casas iniciadas a construir atingiu o valor minimo desde o inicio da série (1959) confirmando a extrema severidade da crise no mercado imobiliario dos EUA.

Entretanto, a "grande" surpresa foram os dados relativos à inflacao. Não pela quebra do indice de precos em 1% face ao mês anterior, pois era previsivel uma queda face à variacão dos precos dos produtos energeticos (que terão caido cerca de 8,6% face ao mês anterior - os precos da gasolina desceram cerca de 14,2%) mas pelo facto de mesmo desconsiderando os precos da gasolina e dos bens alimentares se ter registado uma queda do indice de precos (embora de apenas 0,1%).

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Taxa de desemprego em Portugal

De acordo com os numeros publicados pelo INE a taxa de desemprego aumentou no terceiro trimestre 0,4 pp para 7,7%. A taxa divulgada situa-se ainda assim 0,2 pp abaixo da registada no período homólogo, note-se no entanto que esta reducão da taxa de desemprego se ficou a dever à reducao da popuylacao activa (-0,3 pp) e que, em termos homólogos, se registou uma reducao da populacão empregada (-4.500 unidades ou - 0,1 pp) que contrasta fortemente com os aumentos registados nos trimestres anteriores e indicia uma forte deterioracão das condicões do mercado de trabalho.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Produção industrial nos EUA sobe em Outubro

Os dados ontem divulgados pela Reserva Federal indicam uma subida surpreendente de 1,3%da produção industrial em Outubro. Trata-se todavia de um numero algo enganador pois simultaneamente houve uma revisão em forte baixa da estimativa para Setembro (segundo os dadaos agora divulgados ter-se-à registqdo uma redução de 3,7% face à estimativa anterior de 2,8%) e grande parte da variação esta associada ao sector da energia cuja produção tera sido afectada pelas tempestades e pela greve na Boeing. De acordo com a Reserva Federal, excluindo estes factores temporarios a redução tera sido de cerca de 0,65% em ambos os meses.

sábado, 15 de novembro de 2008

Queda nas vendas a retalho nos EUA

Vendas a retalho nos EUA cairam 2,8% em Outubro face ao mês anterior. Note-se, no entanto, que excluindo as vendas de automóveis (-5,5%) e de gasolina (-12,7%) a queda será de "apenas" 0,5%.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Zona Euro em recessão técnica

Os dados revelados pelo Eurostat apontam para uma variação do PIB na zona euro, no 3.º trimestre, de -0,2% face ao trimestre anterior indicando uma situação de recessão técnica. De acordo com as estimativas publicadas o PIB ter-se-á reduzido na Alemanha (-0,5%), Itália (-0,5%) - colocando estes países em recessão técnica - Reino Unido (-0,5%) e Espanha (-0,2%). Enquanto que terá progredido apenas 0,1% na França. Em Portugal ter-se-á registado uma situação de estaganação (0,0%).

Entretanto, os dados para a inflação apontam para uma descida da inflação anual da zona euro para 3,2% (em Setemebro foi 3,6%) - excluindo o efeito dos preços da energia a inflação desceu 0,1% (de 2,6% para 2,5%). Em Portugal, a descida foi de 3,2% para 2,5%.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Paulson revê TARP

O Secretário de Estado do Tesouro dos EUA anunciou hoje aquilo que parece ser uma profunda revisão das prioridades para utilização dos 700 mil milhões de dólares autorizados pelo Congresso. De acordo com as declarações as prioridades são: - o reforço dos capitais próprios das instituições financeiras; - o apoio ao crédito ao consumo concedido por instituições não bancárias; e - reduzir a execução de hipotecas. A prioritização dos fundos para o reforço dos capitais próprios e para o apoio às situações de dificuldade de pagar créditos hipotecários parecem-me constituir medidas correctas na medida em que julgo que terão um impacto superior (e serão relativamente mais simples de aplicar - uma das questões que sempre me suscitou dúvidas foi a implementação dos leilões em que o Tesouro iria adquirir os ditos "activos tóxicos"). Enquanto que o apoio ao crédito ao consumo parece ser uma resposta ao agravamento das dificuldades de (re)financiamento das entidades emitentes de cartões (já tinham surgido notícias a indicar que a American Express teria pedido auxílio).
Entretanto parece cada vez mais provável a aprovação de apoios ao sector automóvel (a grande questão parece ser se os novos apoios serão - ou não - retirados dos 700 mil milhões já aprovados pelo Congresso), bem como de um estímulo fiscal que Paul Krugman defende que ascenda a cerca de 4% do PIB (ou seja cerca de 600 mil milhões de dólares)

Esclarecimento

Um amigo perguntou-me: Agora és contra a avaliação dos professores? E pensei que talvez os meu post sobre o assunto possa ter criado essa ideia. Pelo que julguei que talvez seja oportuno fazer um esclarecimento.
Sou inteiramente favorável à avaliação do desempenho dos professores que considero uma ferramenta indispensável para uma boa gestão das escolas.
Agora não sou favorável a qualquer modelo de avaliação e considero que um pressuposto central do sistema de avaliação do desempenho é a utilização de um sistema de avaliação adequado no sentido em que os indicadores sejam relevantes (as variáveis medidas devem reflectir os objectivos), controláveis pelo avaliado (no sentido de que a sua acção tem uma influência muito significativa sobre o indicador), e evitar efeitos perversos (os agentes vão reagir de forma dinâmica à alteração de incentivos mas por vezes com resultados que podem ser contrários ao desejado - "diz-me o que medes, dir-te-ei o que obténs") e, além disso, o processo de avaliação não pode consumir recursos (nomeadamente humanos) de forma desproporcionada (a avaliação é um instrumento e não pode nunca ser um fim em si mesma, sendo crucial que se evitem os riscos de excessiva complexidade e burocratização).
Impõe-se, portanto, apreciar se o sistema proposto cumpre estes requisitos. E em meu entender depois de ler vários dos documentos disponibilizados pelo Ministério da Educação a minha conclusão é que o sistema actualmente em questão não cumpre satisfatoriamente nenhum destes requisitos, falhando rotundamente no capítulo da burocratização (para ilustrar esse falhanço basta ler por exemplo este documento do Conselho Científico para a Avaliação dos Professores, do qual uma excessiva vacuidade que denota uma grande indefinição relativamente a aspectos cruciais do sistema, o que é certamente fonte de muitas justificadas incertezas e receios dos docentes relativamente a todo este processo).

terça-feira, 11 de novembro de 2008

No taxation without representation

De acordo com o Público de hoje o Secretário de Estado adjunto Jorge Pedreira terá declarado, passo a citar: "Dizer que só se pode mudar o modelo de avaliação de desempenho dos professores para um mais exigente, se houver o acordo dos próprios é o mesmo que dizer que só se podem aumentar os impostos com o acordo dos cidadãos" (?!!).
A frase já seria infeliz pela concepção da democracia que encerra mas, além disso, dificilmente poderia ter escolhido uma comparação pior. Com efeito um dos princípios fundamentais do liberalismo que remonta, pelo menos, à Declaração dos Direitos inglesa de 1689 é o de que o lançamento dos impostos depende de aprovação dos cidadãos através do parlamento. Recorde-se, aliás, que um dos slogans mais conhecidos da Revolução Americana (1755) era precisamente "No taxation without representation" e uma das justificações da Declaração da Independência a de que o Rei de Inglaterra tinha lançado impostos sem o seu consentimento. Mais, este princípio encontra-se, como não podia deixar de ser, constitucionalmente consagrado no artigo 103.º da Constituição da República Portuguesa que refere que: "(...) 2. Os impostos são criados por lei, que determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes. 3. Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não hajam sido criados nos termos da Constituição, que tenham natureza retroactiva ou cuja liquidação e cobrança se não façam nos termos da lei."

domingo, 9 de novembro de 2008

A avaliação dos professores

A informação é de Março de 2008, pelo que não sei se está ou não actualizada, mas basta-me ler as respostas para compreender as reacções dos professores:

P: Que objectivos são considerados?
R: Os objectivos individuais são formulados com base em dimensões essenciais da actividade docente: a melhoria dos resultados escolares dos alunos; a redução do abandono escolar; o apoio prestado à aprendizagem dos alunos, incluindo aqueles com dificuldades de aprendizagem; a participação nas estruturas de orientação educativa e nos órgãos de gestão do agrupamento ou escola não agrupada; a relação com a comunidade; a formação contínua realizada; a participação e a dinamização de projectos e actividades curriculares e extracurriculares.

A falha é provavelmente minha mas não imagino muito bem como um professor pode incluir nos seus objectivos individuais "reduzir o abandono escolar" e muito menos como é que se pode medir o grau de cumprimento desse objectivo como não concebo como é que se pode atribuir objectivos para o item "a relação com a comunidade" (a não se que se meça em número de reuniões com os pais - mas se é isso porque não dizê-lo claramente). Confesso que se fosse professor não faria a minima ideia de como definir os meus objectivos individuais.

P: Quantos instrumentos de avaliação existem? É um processo muito burocrático?
R: A avaliação de desempenho prevê três fichas obrigatórias: a ficha de auto-avaliação, a ser preenchida pelo professor avaliado; a ficha de avaliação científico-pedagógica, a ser preenchida pelo professor coordenador de departamento, e a ficha de avaliação da participação em actividades escolares, a ser preenchida pela direcção executiva. Cada professor avaliado preenche, por isso, apenas uma ficha, a de auto-avaliação. As escolas têm total liberdade de elaborar outros instrumentos de registo de informação que considerem relevante para efeitos da avaliação do desempenho, que devem ser simples e claros.

P: Porque não se simplifica o processo de avaliação?
R: O sistema de avaliação procura incidir sobre todas as dimensões da actividade dos professores nas escolas. A existência de instrumentos de recolha e registo, de fichas de avaliação e de regras e procedimentos constitui uma necessidade essencial para garantia do rigor e da equidade do processo e para defesa dos avaliadores e dos avaliados.
É necessário e possível simplificar o processo de avaliação, e isso pode e deve ser feito no quadro da autonomia de cada escola.
P: Quem elabora os instrumentos de avaliação? Quem controla a qualidade das fichas?
R: Os instrumentos de registo para efeitos da avaliação do desempenho docente são elaborados e aprovados pelos Conselhos Pedagógicos das escolas, tendo em conta as recomendações que forem formuladas pelo Conselho Científico para a Avaliação de Professores. Cada escola e o conjunto dos seus professores têm, por isso, autonomia para definir o que é observado e avaliado. A qualidade das fichas é controlada pelos professores no Conselho Pedagógico.


Pela descrição, percebe-se nas entrelinhas que por comparação os planos quinquenais soviéticos (que também se baseavam em objectivos) deviam ser modelos de simplificação e desburocratização.

P: Há tempo e capacidade para todos os professores serem avaliados?
R: Sim. Existem nas escolas mais de 33 mil professores avaliadores (coordenadores de departamento e professores titulares), e o mecanismo da delegação de competências garante que cada professor avaliador avalia, no máximo, 12 professores no caso dos 2.º e 3.º ciclos do

ensino básico e secundário, e 7 professores no 1.º ciclo do ensino básico.

Não significa isto que os, pelo menos em princípio, melhores professores vão ter de dedicar uma parte substancial do seu tempo a avaliar os colegas quando poderiam (deveriam) estar a ensinar ?

P: E os professores e as escolas estão preparados para avaliar?
R: Sim. Por um lado, os professores estão bastante familiarizados com o acto de avaliar, uma vez que a avaliação dos seus alunos é uma componente essencial e permanente do seu trabalho (sic). De qualquer forma, estão a decorrer em todo o país acções de formação para avaliadores – conselhos executivos, professores coordenadores de departamento e professores titulares avaliadores. Para os professores em geral, está a ser organizada, também, formação em metodologias e técnicas de auto-avaliação.

O teor do argumento utilizado leva-me a suspeitar que não, pois parece-me óbvio que se tratam de processos de avaliação inteiramente distintos.

P: Como pode um professor avaliar um outro que não seja da mesma disciplina?
R: Os departamentos curriculares integram efectivamente professores de diferentes disciplinas (por exemplo, Matemática-Ciências). Por isso, está previsto que o coordenador do departamento possa delegar num outro professor titular a avaliação do desempenho de um docente numa dada disciplina, da mesma área do professor a avaliar.

Curioso a forma como não respondem directamente às perguntas que o próprio Ministério formulou. No entanto, deduz-se que a resposta à questão é sim o que não deixa de ser surpreendente.

P: Como se mede o progresso dos resultados escolares?
R: Cabe a cada escola definir a metodologia de medição deste critério, tendo em conta os elementos facultados pelo próprio professor na ficha de auto-avaliação. As escolas têm muitos instrumentos de avaliação do progresso dos resultados escolares. Pode contabilizar-se o progresso dos resultados escolares dos alunos no ano/disciplina face ao ano lectivo anterior; o progresso das aprendizagens verificado, por exemplo, relativamente a um teste diagnóstico realizado no início do ano; a evolução dos resultados escolares dos alunos relativamente à evolução média dos mesmos alunos naquela disciplina naquele agrupamento e noutras disciplinas (do mesmo agrupamento); as classificações nas provas de avaliação externa e respectiva diferença face às classificações internas. De qualquer forma, a avaliação dos resultados é feita no contexto da escola, da disciplina ou área curricular e da turma.

Como é óbvio cada um destes critérior pode dar resultados completamente diferentes. Mas sobretudo gostava de saber como é que se escolhe entre os vários métodos a partir dos elementos facultados pelo próprio professor (e significa isso que dois professores de uma mesma cadeira numa mesma escola podem ser aferidos em função de critérios absolutamente distintos ?)

P: Considerar o progresso dos alunos vai inflacionar as notas?
R: Isso não é possível, porque não são as notas que contam, mas, sim, os progressos observados. Por outro lado, existem mecanismos que impedem a mera inflação artificial das notas: são comparados resultados dos alunos num ano com os do ano anterior, com outros alunos da mesma disciplina e com outras disciplinas da mesma turma, ou com os objectivos definidos pelas escolas.

Não percebo como é que esta resposta nos pode tranquilizar. Se um professor cujos alunos tenham 15 tiver melhor classificação do que um cujos alunos tenham 12, terá como é óbvio um incentivo para dar "melhores" notas, até porque provavelmente isso contriburá para que tenha uma melhor "relação com a comunidade".

Estão também definidos mecanismos de correcção de desvios, tendo em conta as diferenças entre classificações internas e classificações externas.

Quais ?

Esta é, aliás, uma falsa questão; que releva do desconhecimento do trabalho docente e do processo de avaliação. Desde logo porque as classificações são públicas, comparáveis, recorríveis e facilmente escrutináveis. Mas também, e principalmente, porque as notas têm de ser fundamentadas em vários elementos de avaliação aferidos e validados pelos professores e pelos órgãos de gestão pedagógica das escolas. Os conselhos de turma e os conselhos pedagógicos têm uma intervenção fundamental no controlo da avaliação dos alunos.

As coisas parecem ter mudado mesmo muito desde o tempo em que completei o secundário... De qualquer forma imagino que não seja muito normal um aluno recorrer por ter tido uma nota inflaccionada.

Além disso, o facto de os objectivos individuais e das escolas serem definidos pelos professores no seu conjunto é a principal garantia de que não há enviesamentos inflacionistas, por um lado, e de que é tido em conta o contexto socioeducativo, por outro.

Não percebo como é que os objectivos individuais são definidos pelos professores no seu conjunto e muito menos como isso garante seja o que for. Infelizmente o documento também não o explica.

China anuncia pacote de 586 mil milhões de dólares

A China anunciou um pacote de esttímulo à economia de 586 mil milhões de dólares a serem aplicados até ao final de 2010. Este pacote parece dirigido sobretudo para as infraestruturas, construção de habitação a custos controlados, auxílio fiscal ao investimento e subsídios aos agricultores e famílias urbanas com baixos rendimentos. É um bom sinal e um passo na direcção correcta na medida em que incentiva o consumo interno o que permitirá compensar, pelo menos parte, da redução da procura externa resultante da recessão nas economias mais desenvolvidas.

sábado, 8 de novembro de 2008

Resultados do inquérito ao sector bancário

Os resultados do inquérito aos bancos da zona euro revela um aperto considerável das condições de crédito, justificada por uma deterioração do capital e da liquidez dos bancos, bem como por um maior pessimismo relativamente à evolução da actividade económica. Mas revelam mais: uma redução substancial da procura de crédito quer por parte das empresas, sobretudo associado às despesas de investimento e operações de aquisição e reestruturação, quer dos particulares, sobretudo para a aquisição de habitação. Cerca de 60% dos bancos responderam que a crise financeira teve um impacto nos seus capitais próprios e 50% que esse impacto teve um impacto no crédito concedido.
O mesmo inquérito para Portugal revela que os bancos adoptaram uma atitude mais restritiva na concessão de crédito às empresas e particulares devido quer a restrições de balanço quer ao aumento da percepção dos riscos de crédito e aponta para uma redução considerável da procura de crédito à habitação. Além disso, uma parte considerável dos bancos inquiridos relatou dificuldades em aceder às fontes tradicionais de financiamento, sobretudo a médio-longo prazo e antecipa que essas dificuldades se mantenham ou acentuem nos próximos três meses e consideram que isso teve/terá impacto no montante e condições de crédito concedido.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Taxa de desemprego nos EUA sobe

O número de desempregados nos EUA aumentou em Outubro mais de 600.000, ultrapassando os 10 milhões e elevando a taxa de desemprego para 6,5%.

Enquanto isso a GM, a Ford e a Chrysler parecem estar cada vez mais próximas de uma situação de ruptura.

FMI revê previsões em baixa

Apenas um mês depois de ter divulgado o World Economic Outlook, o FMI apresentou um novo conjunto de previsões para a economia mundial que indica que em 2009 o PIB vai cair nos EUA (-0,7%), na zona euro (-0,5%), no Reino Unido (-1,3%) e no Japão (-0,2%). De acordo com as previsões o Canadá será a única economia do G7 a crescer, embora apenas uns modestos 0,3%.

BCE desce a taxa de juro

Tal como se esperava, o BCE anunciou uma redução da sua taxa de referência de 50 pontos base para 3,25%, justificando esta acção com a descida da taxa de inflação que espera atinja um nível compatível com a estabilidade de preços (ou seja, próximo dos 2%) em 2009 e com os impactos da crise financeira sobre a procura global.

Entretanto o Banco de Inglaterra reduziu a sua taxa de referência em 150 pontos base para 3,0% referindo que “In the United Kingdom, output fell sharply in the third quarter. Business surveys and reports by the Bank’s regional Agents point to continued severe contraction in the near term. Consumer spending has faltered in the face of a squeeze on household budgets and tighter credit. Residential investment has fallen sharply and the prospects for business investment have weakened. Economic conditions have also deteriorated in the UK’s main export markets”.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Buy the rumour, sell the news

É talvez uma das "regras" mais conhecidas no mercado de acções e explica parte do que se passou hoje. A verdade é que a bolsa tinha recuperado mais de 18% nas seis últimas sessões apesar de notícias francamente negativas, para o que terá contribuido a mensagem repetida quase até à exaustão nos canais de notícias finaceiras de que o fim da incerteza após a eleição seria positivo e de que de que os anos de eleição tendem a ser positivospara o mercado levando a um reforço de posições baseado nessa expectativa e, por outro lado, que os "bears" se mantivessem à margem do mercado. Passada eleição a não materialização dessas expectativas levou a uma natural pressão sobre as cotações eventualmente acentuada por mais algumas notícias negativas, nomeadamente a queda no indicador de actividade no sector dos serviços e indicações de degradação no mercado de trabalho que não augura nada de bom para os números do desemprego que serão divulgados na 6ª feira). Note-se, entretanto, que o volume foi relativamente fraco o que indicia que mais que pressão vendedora se registou uma ausência de compradores, o que pode (ou não) ser um sinal de que se os resultados não forem tão maus como o esperado não é de excluir que o mercado retome o seu movimento ascendente.

Entretanto na Europa o Eurostat anunciou uma queda das vendas a retalho no mês de Setembro e em Portugal foi divulgado que as vendas de automóveis ligeiros foi em Outubro inferior em 7,0% às registadas no mesmo mês de 2007.

Obama é o 44.º Presidente dos EUA

Barack Obama foi, como se esperava, eleito Presidente dos EUA com 338 votos eleitorais (contra 163 para McCain) e 52% do voto popular (47% para McCain), tornando-se o 44.º presidente dos EUA e o primeiro presidente afro-americano. O famoso efeito Bradley não terá sido significtaivo (embora pareça que os que se diziam indecisos acabaram por votar McCain).

Obama demonstrou ser um grande político de campanha. O seu discurso de ontem é excelente e a forma como o fez (mais) um exemplo das suas extraordinárias capacidades como orador e da sua capacidade para passar uma mensagem de união (devo também dizer que apesar dos seus dotes de orador não serem comparáveis também me impressionou o discurso de McCain sobretudo pela enorme sinceridade que transpareceu).

Obama enfrenta agora um novo teste, diferente e mais dificil: governar um país num cenário de crise financeira e económica, com um défice orçamental astronómico, um défice externo gigantesco (embora em queda) e dois conflitos militares. As capacidades que demonstrou possuir em campanha vão ser importantes, mas o cargo que vai ocupar exige também outras capacidades diferentes. Nomeadamente, a capacidade de se rodear de uma equipa competente, de lidar com o Congresso e o Senado (o que é sempre um exercício dificil mesmo com maioria democrata nessas duas câmaras) e sobretudo a capacidade de tomar decisões, o que significa tomar opções que, por natureza, tenderão a criar divisões e existem dois riscos: o de ficar abaixo das expectativas (talvez demasiado elevadas) criando um "efeito de ressaca" e o de não resistir à tentação de enveredar por uma política populista.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Previsões de Outono da Comissão Europeia e ISM

As previsões de Outono da Comissão Europeia apontam para um crescimento do PIB na UE de 0,2% em 2009 (com o Reino Unido, Irlanda, Espanha, Letónia e Estónia a registarem quebras) e de 1,1% em 2010. Para Portugal as previsões também não são animadoras: cresicmento de 0,1% em 2009 e de apenas 0,7% em 2010 e um agravamento do défice orçamental para 2,8% em 2009 e 3,3% em 2010 (acima, portanto, dos 3%) e apenas uma melhoria marginal do défice da balança corrente (-10,6% em 2009 e -10,4% em 2010).

Relativamente aos EUA o cenário é ainda mais sombrio: contracção do PIB até meados de 2009 resultando numa queda média anual de 0,5% em 2009 e uma subida vertiginosa do défice orçamental para 7,2% em 2009 e 9,0% em 2010. Enquanto que as previsões para o Japão (que já estará em recessão técnica) apontam para uma redução do PIB de 0,4% em 2009.

Entretanto nos EUA o inquérito à indústria transformadora (ISM) registou o valor mais baixo desde Setembro de 1982 e as vendas de automóveis terão atingido o nível mais baixo desde Fevereiro de 1983 com as vendas da GM a cairem 45% face a Outubro de 2007 (a Chrysler e a Ford registaram quedas mais "modestas" de 35% e 30% respectivamente e nem as marcas japonesas escaparam a quedas superiores a 20%). Apesar destes dados (piores que o esperado) os índices americanos resistiram bastante bem com o S&P500 a cair apenas 0,25% numa sessão surpreendetemente calma (provavelmente à espera do resultado das eleições -a Bloomberg especula quanto à possibilidade de um plano de relançamento da economia à Franklin D. Roosevelt).

Para não ser tudo negativo quer as previsões da CE quer o ISM apontam para uma redução considerável das pressões inflaccionistas.

domingo, 2 de novembro de 2008

BPN nacionalizado

O Governo anunciou que vai propor à AR a nacionalização do BPN que terá acumulado prejuízos de 700 milhões de euros em operações clandestinas. Ao que parece o BPN vai ser integrado na CGD que provavelmente terá que proceder a um aumento de capital. Entretanto, parece que Jerónimo de Sousa terá considerado uma medida positiva por "reforçar o papel do Estado no sector financeiro" (?!!!) e que “é uma excelente oportunidade para apoiar as pequenas e médias empresas portuguesas" (????). Alguém será capaz de lhe explicar que o Estado está a "adquirir" um banco em situação de ruptura e que é provável que o impacto da operação no capital da CGD faça diminuir a capacidade da CGD (e portanto do sistema bancário nacional) para financiar a actividade económica ?

PS: Entretanto, o Estado propõe-se a financiar a injectar 4 mil milhões de euros no capital dos bancos (o que corresponde a cerca de 2,4% do PIB ou seja cerca de um ano de défice) - o PCP deve estar exultante. Das declarações (tal como citadas pelo Diário económico) ressalto duas notas: 1) a referencia à concorrência internacional - o que é um ponto válido e revela um dos efeitos perversos dos sucessivos planos de apoio que têm vindo a ser anunciados a nível internacional (num quase concurso para saber quem apoia mais); 2) a contradição entre as declarações do Ministro das Finanças que diz que a medida não tem que ver com debilidades ou insuficiência das instituições nacionais e do Governador do Banco de Portugal que refere que as práticas internacionais de mercado criaram um padrão de 7% para o rácio de fundos próprios de base e recorrendo às contas do 1º semestre de 2008 vemos que o BPI tem um rácio Tier I de 7,6% e o BCP de 7,5% mas o CGD tinha um rácio de apenas 6,0% e o BES de apenas 5,9%, portanto significativamente abaixo das "práticas internacionais de mercado".

Keynesianismo e grandes projectos de investimento

A actual conjuntura económica tem sido invocada pelo Governo para defender os grandes projectos de investimento, o que apareentemente até faz algum sentido. Num contexto em que a economia se contraí é, à partida, de esperar que os efeitos de crowding out (redução do investimento privado) via taxa de juro sejam menores - sobre o assunto ver a interessante discussão em Pedro Lains e no recente blogo da SEDES - e, portanto, o efeito líquido sobre o produto e o emprego maiores. Julgo no entanto que há que ter em atenção que:
1) A utilização do investimento público com efeitos expansionistas tem um grande obstáculo que resulta dos lags temporais entre a decisão de investir e as despesas de investimento. No caso concreto de Portugal os grandes projectos de investimento de que se fala tem períodos de execução muito alargados o que significa que grande parte da despesa não em 2009-201o mas após esse período ou seja, quando (espera-se) a economia já estará(ia) naturalmente em recuperação.
2) O efeito sobre o produto (e o emprego) depende em grande medida da despesa (e dos postos de trabalho directos) pelo que desse ponto de vista a construção, por exemplo, do TGV ou fazer e tapar buracos tem sensivelmente o mesmo efeito (na verdade como parte da despesa do TGV seria dirigida para importações fazer e tapar buracos teria provavelmente um efeito maior), mas naturalmente que os efeitos a médio longo prazo serão diferentes. Isto serve para dizer que mesmo numa conjuntura recessiva devem-se naturalmente privilegiar os projectos cuja rentabilidade económico-social seja superior, o que significa que a crise pode justificar que se antecipe o calendário de execução mas não justifica a dispensa de uma análise custo-benefício criteriosa.
3) A crise actual é, pelo menos na sua origem, uma crise financeira (não uma crise de sobreprodução) e Portugal está numa situação desvantajosa devido aos níveis de dívida pública e, sobretudo, de endividamento externo pelo que há que atender aos efeitos do esforço financeiro associado a esses (ou outros) projectos no custo de financiamento.

sábado, 1 de novembro de 2008

Indústria chinesa em queda?

A Bloomberg noticia hoje que a indústria transformadora chinesa está a desacelerar fortemente e pode estar já a contrair-se. A queda do consumo nos EUA e na Europa parece estar já a provocar uma forte redução da utilização da capacidade produtiva no leste asiático.

Recessão simultanea nos EUA, Europa e Japão ?

Os dados divulgados ontem revelam que o PIB dos EUA caiu 0,3% (valor anualizado) confirmando que a economia dos EUA estará já em recessão. O consumo privado caiu 3,1% e a FBCF 5,6% pelo que o resultado só não foi pior graças à balança externa (as exportações subiram 5,9% e as importações caíram 1,9%) e ao consumo público (+5,8%) impulsionado pelas despesas militares (que cresceram 7,5%).

Entretanto o indicador de sentimento económico na zona euro caiu em Outubro 7,1 pontos para 80,4 atingindo o nível mais baixo desde Novembro de 1993 (Em Portugal caiu 8,3 pontos para 79,0 situando-se em níveis próximos dos registados em 2003 ano em que o PIB caiu 0,8%), dando mais uma indicação de que podemos ter uma recessão simultânea nos EUA, na zona euro, no Reino Unido e provavelmente também no Japão.