A actual conjuntura económica tem sido invocada pelo Governo para defender os grandes projectos de investimento, o que apareentemente até faz algum sentido. Num contexto em que a economia se contraí é, à partida, de esperar que os efeitos de crowding out (redução do investimento privado) via taxa de juro sejam menores - sobre o assunto ver a interessante discussão em Pedro Lains e no recente blogo da SEDES - e, portanto, o efeito líquido sobre o produto e o emprego maiores. Julgo no entanto que há que ter em atenção que:
1) A utilização do investimento público com efeitos expansionistas tem um grande obstáculo que resulta dos lags temporais entre a decisão de investir e as despesas de investimento. No caso concreto de Portugal os grandes projectos de investimento de que se fala tem períodos de execução muito alargados o que significa que grande parte da despesa não em 2009-201o mas após esse período ou seja, quando (espera-se) a economia já estará(ia) naturalmente em recuperação.
2) O efeito sobre o produto (e o emprego) depende em grande medida da despesa (e dos postos de trabalho directos) pelo que desse ponto de vista a construção, por exemplo, do TGV ou fazer e tapar buracos tem sensivelmente o mesmo efeito (na verdade como parte da despesa do TGV seria dirigida para importações fazer e tapar buracos teria provavelmente um efeito maior), mas naturalmente que os efeitos a médio longo prazo serão diferentes. Isto serve para dizer que mesmo numa conjuntura recessiva devem-se naturalmente privilegiar os projectos cuja rentabilidade económico-social seja superior, o que significa que a crise pode justificar que se antecipe o calendário de execução mas não justifica a dispensa de uma análise custo-benefício criteriosa.
3) A crise actual é, pelo menos na sua origem, uma crise financeira (não uma crise de sobreprodução) e Portugal está numa situação desvantajosa devido aos níveis de dívida pública e, sobretudo, de endividamento externo pelo que há que atender aos efeitos do esforço financeiro associado a esses (ou outros) projectos no custo de financiamento.
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