quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Multiplicadores orçamentais

A dimensão dos multiplicadores orçamentais tornou-se tema de acesa discussão pública após a recente divulgação da célebre caixa da autoria de Olivier Blanchard, economista chefe do FMI, e David Leigh,  na última edição do World Economic Outlook (páginas 41 a 44), no qual estes autores concluiram que um esforço de consolidação orçamental correspondente a 1% do PIB estava associado a um erro de previsão desta variável entre 0,4 e 1,2 pontos percentuais (p.p.), concluindo que para as economias avançadas o multiplicador orçamental se situaria entre 0,9 e 1,7. Ou seja que as medidas de consolidação orçamental tenderiam, ceteris paribus, a traduzir-se numa redução entre 0,9 euros e 1,7 euros por cada euro de aumento da receita fiscal ou redução da despesa fiscal. Resultados estes que correspondem no essencial aos estimados para os EUA por Barry Eichengreen e Kevin O'Rourke com base em dados relativos à década de 1930.  

Deve notar-se que uma conclusão importante destes estudos é a de que a dimensão dos multiplicadores orçamentais depende das circunstâncias económicas específicas. Concretamente estes autores justificam este erro a três fatores: i) existência de vasta capacidade produtiva não utilizada, ii) política monetária condicionada pela taxa zero e iii) simultaneidade da aplicação de medidas de austeridade em diversos países, pelo que a extrapolação dos resultados para uma pequena economia aberta como a portuguesa exige um particular cuidado.

Nomeadamente, deve assinalar-se que  numa pequena economia aberta a designada "fuga pelas importações" (que traduz efeito do crescimento do PIB em resultado de uma parte da procura gerada se dirigir a produtos importados) tenderá a ser maior pelo que, consequentemente, o multiplicador será menor. Do mesmo modo, o multiplicador tenderá igualmente a ser menor numa situação em que existam importantes restrições ao crédito e em que, portanto, os efeitos de crowding-out - efeito negativo (positivo) sobre a procura privada associado a um aumento (diminuição) da despesa pública - tendem a ser superiores.

Nota: De acordo com estes autores o erro médio das previsões do FMI de cerca de 1 p.p. terá sido significativamente superior ao erro médio quer das previsões da Comissão Europeia (cerca de 0,8 p.p.) e da OCDE (cerca de 0,4 p.p.).



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