Quando, em janeiro de 2009, Barack Obama tomou posse como 44.º presidente, a economia dos EUA estava numa situação de grave recessão. No último trimestre de 2008 o PIB dos EUA caiu a uma taxa anualizada de 8,9%, a taxa de desemprego subiu de cerca de 5% no final de 2008 para 7,4% no final do ano (só no último trimestre de 2008 foram "destruidos" cerca de 2 milhões de empregos) e a produção industrial, as vendas de comércio a retalho, a construção, os preços das casas e das ações pareciam em "queda livre", suscitando receios de que pudesse ocorrer uma situação de depressão comparável à verificada na década de 1930.
Um cenário que felizmente não se concretizou, em grande parte em virtude de uma ação determinada das autoridades através de políticas fiscais e, sobretudo, monetárias fortemente expansionistas. As quais permitiram que o PIB dos EUA tenha crescido sistematicamente desde o terceiro trimestre de 2009 e que, depois de atingir um máximo de 10% em outubro de 2009, a taxa de desemprego tenha iniciado uma tendência de descida até aos atuais 7,9%.
Apesar da capacidade para conter a emergência de uma nova grande depressão constituir em si um feito notável, a verdade é que a situação atual da economia dos EUA não é brilhante. De facto, não obstante o nível de produto ter suplantado no quarto trimestre de 2011 os níveis pré-crise, a verdade é que recuperação económica tem sido desanimadoramente lenta com a taxa de crescimento nos últimos dois anos em níveis relativamente fracos (cerca de 2%) e a taxa de desemprego permanece em níveis historicamente elevados, sendo, ainda, de salientar que, em especial, ao longo do corrente ano a economia tem revelado sinais de algum enfraquecimento, nomeadamente no que se refere a evolução da taxa de desemprego e, sobretudo, do investimento (que no 3.º trimestre aumentou apenas à taxa anualizada de 1,5%).
Por outro lado, o défice das contas públicas mantém-se em níveis muito elevados com as necessidades de financiamento das administrações públicas a corresponderem a cerca de 9% do PIB, a dívida pública (bruta) a atingir cerca de 106% do PIB, o défice da balança corrente próximo dos 3% do PIB. Enquanto que se verificaram avanços significativos no processo de desalavancagem das famílias (cujo grau de endividamento em percentagem do rendimento disponível desceu de cerca 134% em finais de 2007 para 113% no segundo trimestre de 2012) e o mercado imobiliário tem revelado sinais de alguma reanimação e, embora o nível de dívida pública seja muito elevado, contrariamente a muitos receios, as taxas de juro dos títulos do tesouro permanece a níveis muito baixos (abaixo de 1% para títulos com prazo até 5 anos e dos 2% para as obrigações a 10 anos) e, apesar da política monetária fortemente acomodatícia, a taxa de inflação médias nos últimos 12 meses é de apenas cerca de 2,4% não existindo indicadores que apontem para um aumento das tensões inflacionistas.
De facto neste momento, para além da dinâmica do investimento e do abrandamento da economia mundial (nomeadamente na Europa e na Ásia) o ponto de interrogação mais importante sobre a economia dos EUA no curto prazo consiste no risco de ausência de um acordo político entre Democratas e Republicanos que evite que a entrada em vigor no próximo mês de janeiro de um conjunto de medidas de aumento de impostos e redução de despesa num montante global de cerca de 720 mil milhões de dólares (cerca de 4,6% do PIB).
Uma situação que estará a criar uma situação de incerteza com efeitos adversos sobre o investimento empresarial e o emprego e que se não for solucionada se traduzirá num "choque de austeridade" que, se não for mitigado, conduzirá a uma recaída dos EUA numa situação de recessão com repercussões globais. Uma situação que, no entanto, estou convicto de que, seja qual for o vencedor das eleições de amanhã, o futuro presidente dos EUA tudo fará para tentar evitar.
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