segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O mito da maioria sociológica de esquerda

Na entrevista publicada hoje no Público, Rui Tavares é claro quanto aos objetivos estartégicos da criação do "seu" novo partido: impedir que o governo saído das próximas eleições legislativas resulte de uma coligação PS/PSD.

Para alcançar este objetivo, Rui Tavares propõe-se ser um elemento dinamizador de um movimento que conduza a um acordo entre o PS e Bloco de Esquerda que, em seu entender, refletiria a aquilo a que se refere como "uma maioria sociológica de esquerda" que supostamente existirá em Portugal. Uma maioria cujo centro "geométrico" seria constituído pela ala mais à esquerda do PS e os mais moderados do Bloco e que, implicitamente, a deveriam liderar.

Esta visão de um sistema partidário bipolarizado entre esquerda e direita corresponderia a uma radicalização da vida política entre dois blocos políticos (e seguindo a tese) sociológicos opostos ou, até mesmo, antagónicos, do qual nada de bom adviria para o país.

Ora, para além da obviamente não existir essa tal maioria sociológica, pelo menos no sentido de grupos unidos por um conjunto de interesses comuns e que se identifiquem com um programa coeso, mas quanto muito uma mera maioria aritmética de votos dos partidos tradicionalmente identificados com a esquerda. Felizmente, a história eleitoral portuguesa das últimas décadas revela a importância decisiva do centro político.

Quer nas eleições presidenciais quer nas eleições legislativas, seja à direita com Cavaco (nas legsilativas e presidenciais) seja à esquerda com Soares e Sampaio (nas presidenciais) ou Guterres e Sócrates (nas legislativas) as situações de maiorias claras foram sempre obtidas pelos candidatos ou forças políticas que foram capazes de conquistar a parte mais significativa do eleitorado do centro.

Um cenário que as sondagens conhecidas não revelam que se tenha alterado significativamente. Neste contexto, embora obviamente que qualquer líder do PS deseja garantir a maior parte possível dos votos da dita "esquerda", mas a verdade é que os ganhos eleitorais de uma excessiva cedência a um programa de "esquerda" tenderá a ter um custo muito (demasiado) elevado de votos do eleitorado (esse sim) moderado.

Pelo que o único cenário em que uma tal opção poderia alcançar uma maioria absoluta seria no caso de a essa radicalização de esquerda corresponder uma, pelo menos, igual radicalização dos partidos à direita. A qual a esquerda moderada, com que Rui Tavares se identifica, deseja e da qual depende para a prossecução dos seus objetivos.

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