As perspectivas para a evolução do consumo privado em 2011 já eram bastante negativas pelo efeito combinado: i) da redução dos rendimentos reais, em virtude da contenção salarial, do aumento da inflação e do efeito da contracção do emprego; ii) do aumento dos impostos sobre o rendimento e iii) do aumento das dificuldades no acesso ao crédito e iv) do efeito riqueza negativo em resultado da tendência de queda do mercado imobiliário.
Nas últimas semanas têm crescido as indicações de que o Banco Central Europeu poderá aumentar as taxas de juro de referência provavelmente no terceiro trimestre o que tem vindo a reflectir-se numa subida das taxas euribor. O que, mantendo-se esta tendência, será mais um factor fortemente negativo para a evolução da situação financeira dos consumidores em Portugal dado não só o elevado nível de endividamento das famílias, como igualmente o facto de grande parte dos juros dessa dívida estar indexadas às taxas euribor, o que torna as famílias portuguesas particularmente vulneráveis (nomeadamente comparativamente ao que se verifica noutros países da zona euro) a uma subida das taxas de juro no mercado monetário.
Recorde-se a este respeito que um dos factores que, em 2009 e 2010, atenuou consideravelmente os efeitos da crise sobre a situação financeira das famílias foi precisamente a descida das taxas euribor. Por exemplo, a euribor a 6 meses que desceu de valores acima dos 5%, em meados de 2008, para valores abaixo de 1%, na primeira metade de 2010, tem vindo a subir ligeiramente desde Junho e já se situava ontem nos 1,367% e a curva de rendimentos indica que as expectativas do mercado são de que esta tendência de subida prossiga nos próximos meses, o que tenderá a agravar a já dificil situação financeira das famílias e, a ocorrer, não deixará de ter reflexos sobre a evolução do consumo.
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