Em adenda ao post anterior. Uma regressão linear para os países da União Europeia (excepto o Luxemburgo por ser um clarissimo outlier) que tenha como variável explicada a despesa pública em % do PIB e como variável explicativa o PIB per capita em paridades de poder de compra (média da UE = 100), em ambos os casos para 2007 e utilizando os dados do Eurostat, dá os seguintes resultados:
Despesa Pública = 34,3123 + 0,096308 x PIB per capita PPS
(10,986) (2,973)
R2 = 0,519
O valor da constante indica a importância da influência de outros factores (nomeadamente de natureza política), mas apesar de tudo o coeficiente do PIB per capita é significativo. Com todos os caveats que este exercício implica, aplicando esta equação um país com um nível de PIB per capita igual ao de Portugal em 2007 "deveria" ter um nível de despesa pública em % do PIB de 41,8%. O que indica que em Portugal a despesa pública seria superior em 2 pontos percentuais ao que resulta desta equação.
Repare-se, no entanto, que há 9 países para os quais a diferença entre os níveis de despesa pública efectivos e aqueles que resultam da equação são superiores aos verificados em Portugal (Hungria: +9,7 pp; França: +7,6 pp; Dinamarca: + 4,7 pp; Suécia: +4,6 pp; Itália: + 3,6 pp; Grécia: + 3,4 pp; Bélgica: + 2,9 pp; Polónia: + 2,7 pp e Áustria: +2,3 pp).
6 comentários:
Sinceramente eu não consigo encontrar um sentido para esta relação (entre G/Y e Y/capita) que agora começa a aparecer na blogoesfera em gráficos.
1. Não me lembro de ver isto em papers ou documentos de policy.
2. Qd se faz G/Y já se está a "normalizar" para o tamanho da economia, a ter em conta o tamanho da economia.
Veja a equação que usa:
G/Y=a + b Y/hab, ou seja
G=a Y +b Y^2/hab
porque raio haveria o consumo público de crescer com o quadrado do produto?
3. Outra maneira de ver que a equação não faz sentido: tomando um Y/cap suficientemente alto, essa equação diria que o G deveria ser 100% (ou mais!!) do PIB.
4. Mais outra:
Pegue num país que esteja sobre a recta:
G=a Y +b Y^2/hab
agora divida esse país exactamente ao meio (Galiza, Catalunha e País Basco independentes, por exemplo) entre duas regiões iguais, ou seja G1=G2=2G, Y1=Y2=2Y.
É fácil de ver que estes dois novos países não obedecem à equação!!! (porque metade do quadrado, não é o quadrado da metade).
5. E ainda outra,
os níveis de G/Y não têm variado muito nos países estáveis da UE nas últimas décadas. O mesmo não se pode dizer do Y. Ou seja aqueles parametros da equação variam de ano para ano. Que raio de parâmetros são estes, que dependem do ano em causa? Por que não comparar Portugal com a França, quando a França tinha o mesmo PIB que nós?
Etc.
P.S. já coloquei esta questão no Desmitos (onde vi o gráfico pela primeira vez), mas o Álvaro Santos Pereira gosta de fugir a perguntas que fogem ao básico.
Ridículo. Agora que releio, o meu ponto 4 não faz qualquer sentido.
Enfim, mas mantenho os outros.
ESta relação é conhecida na economia pública como a Lei de Wagner que seguindo por exemplo Brown & Jackson "Public Sector Economics" 4th Edition pode ser formulada do seguinte modo: "as per capita incomes in an economy grows, the relative size of the public sector will grow also". E foi formulada como uma relação empírica. Quanto a explicações há basicamente duas que podem ser combinadas: i) a elasticidade-rendimento da "procura" de bens públicos (educação, saúdes, etc) é superior à unidade ou seja quando o rendimento aumenta 1% a procura destes bens aumenta mais de 1% e ii) o efeito de Baumol - que é semelhante ao Balassa Samuelson - segundo o qual em termos simples este efeito resulta do aumento dos salários resultante do aumento da produtividade nos outros sectores.
Já agora reparei que não repsondi aos pontos 3 e 5.
Quanto ao ponto 3, não pretendo que a equação seja válida para todos os valores de Y per capita (já agora teoricamente o G/Y poderia ser superior a 100%).
Quanto ao ponto 5. É verdade que os parametros variam de ano para ano, uma hipótese seria utilizar valores corrigidos do ciclo (ou o que seria mais simples médias móveis) mas para os efeitos que aqui pretendia ilustrar julgo que os resultados não seriam significativamente diferentes. Claro que também poderiamos comparar com outros países qaundo tinham um nível de rendimento semelhante ao nosso (mas isso dava muito mais trabalho).
Obrigado pelas explicações.
O efeito Baumol explica o acompanhamento dos salários públicos aos privados - apesar da produtividade ser constante - mas isso não implicaria um G/Y fixo e não-crescente com Y/hab.
Mas mais importante: o que eu queria dizer com os pontos 3 e 5 (sim, eu sei que G/Y pode ser >1), era que a relação me parece muito esporádica. No ponto 5. estava a falar da estabilidade de G/Y para lá de sazonalidades, ciclos, etc.
Vendo os valores de G/Y para os países do Norte da Europa nas últimas décadas (nos restantes houve mudança de regime), eles estão praticamente constantes.
Por isso pergunto (não o estou a defender), por que não haveríamos de ter o mesmo G/Y que a Dinamarca ou a Suécia quando tinham o nosso Y/hab?
Por que usamos a curva de hoje, e não a curva de há 2 ou 3 décadas?
Neste sentido, não acho que faça sentido olhar para a regressão porque os parâmetros são altamente variáveis (para lá dos ciclos).
A curva é significativa, pura e simplesmente porque por acaso os mais ricos têm um G/Y mais alto e vice-versa.
Ao ficarmos por uma análise estática, em vez da conclusão normativa que tira no seu texto, alguém também poderia tirar uma conclusão positiva: são os países com G/Y mais alto que chega a ricos. Eu sei que a anális enão faz sentido, mas a normativa também não me parece fazer.
Pode parecer contra-intuitivo, mas o acmaponanhamento dos salários públicos aos privados apesar da produtividadeevoluir menos rapidamente no sector público implica um aumento do G/Y.
Quanto à análise normativa. Não era essa a minha intenção,. como julgo que resulta com clareza do post anterior a este. Daí aliás que tenha colocado "deveria" entre aspas. O objectivo era tão somente testar como é que o rácio G/Y em Portugal compara com o que se verifica nos nossos parceiros europeus descontando o "efeito" das diferenças de PIB per capita.
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