A definição de recessão constitui uma questão recorrente que desta vez renasceu com as divergências entre as declarações do Governador do Banco de Portugal que veio dizer que Portugal já estava em recessão técnica e que foram posteriormente contrariadas por outros, entre os quais o Presidente do Tribunal de Contas que veio dizer que "Tecnicamente ainda não estamos em situação de recessão".
Estas diferenças de opinião resultam de duas coisas. Em primeiro lugar, de uma deficiência do entendimento sobre a definição de "recessão" que, seguindo a definiçao utilizada pelo NBER corresponde a um decréscimo significativo da actividade económica “lasting more than a few months, normally visible in production, employment, real income, and other indicators” (por exemplo, produção industrial e vendas do comércio). A ideia corrente de que uma recessão corresponde a pelo menos dois trimestres consecutivos de queda do PIB é apenas uma simplificação utilizada pelos economistas, mas que nem sempre se adequa. Podendo existir uma recessão mesmo sem que se verifique uma queda do PIB durante dois trimestres consecutivos. Assim, por exemplo, relativamente aos EUA, o NBER considera que existiu uma recessão em 2001 apesar de nessa altura não se terem registado dois trimestres consecutivos de queda do PIB (o PIB caiu no 1.º e 3.º trimestres de 2001 mas aumentou no 2.º trimestre) e declarou como Dezembro de 2007 como o início da recessão apesar do PIB ter aumentado no 2.º trimestre de 2008.
Por outro lado, confunde-se muitas vezes o momento da recessão com o seu reconhecimento. Dada a definição de recessão acima e o desfasamento com que são conhecidos os dados económicos, uma situação de recessão apenas pode ser ser tecnicamente confirmada vários meses depois do seu início efectivo (o mesmo ocorrendo relativamente à confirmação do fim de uma recessão), sucedendo por vezes que o início de uma recessão apenas seja confirmada quando de facto (como posteriormente se vem a confirmar) ela já terminou. Mas isso não significa que a recessão apenas se inicie quando existe essa informação, mas apenas que ainda não existem os dados que permitam confirmar com toda a certeza essa situação.
Daí que pessoalmente concorde completamente com a posição do Governador do Banco de Portugal quando diz que "Pode dizer-se que estamos em recessão. A dinâmica das variáveis macro-económicas vai produzir aquilo que dissemos e que as instituições internacionais confirmaram: uma recessão económica durante o ano de 2011". E a única critica que lhe poderá ser feita será eventualmente a de que
ainda não dispomos dos dados que permitam efectivamente verificar ser essa a situação e que, portanto, trata-se de uma posição fundamentada, mas que ainda não é possível confirmar tecnicamente.
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