A importância da evolução da situação grega reside não apenas nos efeitos financeiros "directos" sobre o sistema financeiro (e o balanço do próprio BCE) de uma eventual restruturação mas no facto de constituir um "balão de ensaio" e um triplo teste relativamente à: i) a capacidade de um Governo implementar uma política de austeridade extremamente severa imposta pelo exterior; ii) o sucesso de uma política baseada na deflação para recuperar os equilíbrios e iii) a determinação política da União Europeia para evitar uma restruturação. Daí que o BCE tenha, em meu entender razão, em pretender evitar a todo o custo qualquer medida que possa ser apercebida pelo mercado como uma restruturação.
Infelizmente, não é apenas uma questão de "contágio" e a verdade é que, até agora, os resultados deste teste não parecem famosos.
Independentemente da inegável maior gravidade económica, financeira e político-social da Grécia, a verdade é que a situação neste país revela quão dificil é recuperar a confiança dos mercados e, também, as fragilidades dos mecanismos de assistência financeira europeus para alcançar esse objectivo num quadro em que os níveis de endividamento público e externo atingem valores muito acima dos que ocorriam habitualmente no casos em que era necessária a intervenção do FMI. Acrescente-se o carácter altamente politizado das decisões de concessão / extensão do auxílio e as dúvidas quanto ao sucesso de um processo de ajustamento baseado na deflação - que ao contrário dos baseados na desvalorização cambial e consequente inflação não têm um grande historial de sucesso (embora o caso recente dos países bálticos seja um caso de estudo interessante ) - e temos um cenário em que não vai ser nada fácil garantir o regresso de Irlanda e Portugal aos mercados nos prazos previstos, sem que ocorra uma alteração dos mecanismos de assistência financeira na União Europeia que dê garantias suficientes de que não vai ocorrer uma restruturação da dívida nestes países.
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