segunda-feira, 28 de março de 2011

A arte do possível

Seguindo a comunicação social parece que existem, por um lado, os portugueses que querem recorrer ao auxílio extermo e os que recusam esse auxílio.

Ora devo dizer que pessoalmente não me enquadro em nenhuma dessas categorias. Pertenço à certamente esmagadora maioria que preferia, sem qualquer dúvida, que Portugal não não tivesse que recorrer à ajuda financeira. Infelizmente entre aquilo que seriam as nossas preferências e aquilo que é possível vai muitas vezes uma distância demasiado grande...  Não tenho qualquer problema em admitir que, nos últimos meses, o Governo tem feito um esforço enorme para evitar essa solução, mas a verdade é que só tem sido possível adiar o recurso ao auxilio externo graças à apoio do BCE e que multiplicam-se os sinais de que estamos perigosamente perto do momento em que a República portuguesa deixará de ser capaz de (re)-financiar a sua dívida no mercado, por inexistência de compradores disponíveis, caso em que a alternativa de não recorrer ao FMI será o caos económico e financeiro.

2 comentários:

Ana disse...

João, não acredito que exista alguém, no seu "juízo perfeito", que "prefira" a vinda do FMI.
Tenho pena que o Governo tenha posto a questão como a tomar em casos extremos... Não acredito que se recorressemos à ajuda finaneira externa, não estaríamos a obter financiamento com condições mais vantajosas e, sobretudo, em vez de 4 PECs, provavelmente, e razoavaelmente, não teríamos, provavelmente, passado de ... lets say 2?
A Fada Oriana

João Pedro Santos disse...

Obrigado pelo comentário. A taxa relevante para o nosso financiamento é aquela a que colocamos dívida no mercado primário que até agora tem sido (para prazos similares) apesar de tudo inferior à que Grécia e Irlanda tiveram inicialmente que suportar. As recentes reduções de taxa de juro e alargamentos de prazo que a Grécia tem obtido alteram de algum modo esse cálculo mas de todo o modo continuaria a ser preferível não recorrer ao FEEF no caso de ser expectável que as taxas de juro a que nos conseguimos financiar no mercado venham a descer significativamente no curto prazo... o que sinceramente não acredito. Parece-me, pelo contrário, que o "mercado" já "decidiu" que teremos mesmo que recorrer ao FEEF. Quanto aos PEC's o problema não está no número, a gravidade da situação orçamental portuguesa não pode (deve) ser resolvida num ano através de um pacote mas exige um ajustamento gradual sob pena de consequências catastróficas para a economia (estou a pensar num cenário tipo Argentina em 1999-2000, Islândia em 2008-2009 ou países bálticos em 2009 com quedas do PIB superiores a 10%). O problema principal tem sido a forma como cada PEC é sucessivamente apresentado como "necessário e suficiente" e a forma como tem sido implementados.