Após quase uma semana em viagem e com acesso limitado à internet com reflexos na periodicidade dos posts (mas que permitiu pôr em dia um conjunto de leituras interessantes), o facto económico mais relevante e de algum modo surpreendente são as declarações do presidente BCE de ontem, assinalando a possibilidade de uma subida das taxas de juro já na próxima reunião quando tudo apontava para que tal apenas viesse a verificar-se no 3.º trimestre, com efeitos na valorização do euro e nas taxas euribor.
O que sendo de algum modo consistente com a evolução positiva da actividade económica (sobretudo, como temos vindo a assinalar nos países do centro e norte da Europa) e com a evolução da inflação relativamente à qual nos comentários de Trichet se refere que embora resulte sobretudo dos aumentos dos preços dos produtois petrolíferos e bens alimentares "is also discernible in the earlier stages of the production process. It is paramount that the rise in HICP inflation does not lead to second-round effects and thereby give rise to broad-based inflationary pressures over the medium term. Inflation expectations over the medium to longer term must remain firmly anchored in line with the Governing Council’s aim of maintaining inflation rates below, but close to, 2% over the medium term". O que atendendo ao nível anormalmente baixo a que as taxas de juro é visto pelo BCE como aconselhando a uma subida das taxas de juro que tenha um efeito preventivo sobre a inflação impedindo que esta se consolide.
Dito isto deve salientar-se que uma pequena subida das taxas de juro da zona euro (e.g., de 0,25 pp) não terá provavelmente qualquer efeito perceptível sobre o nível de inflação na medida em que não é crível que reverta os principais factores que estão na base da sua subida e que estão, sobretudo, relacionados com factores de ordem política e pela evolução da procura dos países emergentes (não sendo por acaso que o FMI já começou a chamar a atenção para os riscos de "sobreaquecimento" de algumas dessas economias), arriscando a credibilidade do BCE, enquanto que por outro lado, um aumento significativo da taxa de juro pode colocar sérios riscos à recuperação económica da zona euro, risco que o BCE não parece querer correr. Colocado nesta posição dificil o BCE parece ter optado pela estratégia de aumentar um pouco a taxa de juro, esperando que isso seja suficiente para evitar que a inflação continue a subir e assim evitar mais tarde subidas mais elevadas.
Um outro aspecto que este anúncio vem salientar é a dificuldade de conduzir uma política monetária num contexto em que as situações económicas dos diferentes países que integram essa zona monetária são bastante distintas. Com efeito, se a evolução da conjuntura económica da maior parte dos países europeus parece permitir acomodar sem grandes receios uma pequena subida das taxas de juro, tal subida não poderia vir em pior altura para os países periféricos, como é o caso de Portugal, forçados a proceder em 2011 e 2012 um ajustamento orçamental muito dificil e que sofrem os efeitos da deterioração dos termos de troca associados ao aumento dos preços do petróleo e bens alimentares.
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