No terceiro capítulo do seu livro Vitor Bento descreve o importante papel da intermediação financeira para a maximização da utilização intertemporal dos recursos económicos disponíveis, chamando no entanto a atenção para que o crédito "também pode desempenar um papel perverso e ser um instrumento facilitador (...) de comporatamentos irrazoáveis [e ineficientes]" e, até mesmo, "tornar-se um instrumento de forçada, e praticamente, arbitrária transferência de riqueza entre agentes económicos", no caso de o devedor se revelar incapaz de solver os seus compromissos o que pode resultar de causas fortuitas e inesperadas, mas também de uma conduta deliberada ou negligente.
Excessos que podem ocorrer também relativamente ao Estado, quando o valor da sua dívida cresce de forma duradoura a um ritmo superior ao da economia incorrendo numa situação de sobreendividamento potencial que leve os mercados a duvidar da sua solvabilidade, tendo de a encetar um processo de contenção das suas despesas e/ou aumento da sua receita para restaurar a confiança, sob pena de, caso não o consiga recuperar, ver fechar-se o acesso ao crédito que o force a ajustar de imediato as suas necessidades de financiamento.
No último capítulo do livro, Vitor Bento discute a recente crise financeira internacional, procurando identificar os culpados da crise, mas sobretudo as suas causas económicas e as suas consequências.
No que respeita às causas económicas da crise Vitor Bento elenca: i) o excesso de liquidez gerado pelas políticas monetárias e cambiais nos principais actores mundiais cujos efeitos inflacionistas foram contrariados pela política cambial de certos países (e.g. China) que mantiveram as suas moedas subavaliadas conjugado com o efeito deflaccionista na indústria, gerando uma pressão inflacionista nos mercados de activos; ii) o modo de funcionamento do sistema financeiro que propiciou um crescimento desmesurado do stock de activos financeiros; iii) a arrogância epistemológica de certas correntes de pensamento económico; iv) a excessiva concentração e, sobretudo, padronização comportamental das instituições financieras; v) a crise de valores que levou à emergência da riqueza material (e do consumo) como objectivo dominante do reconhecimento social e a uma erosão dos valores éticos no mundo empresarial.
Quanto às consequências da crise, Vitor Bento refere: i) a retração (temporária) da actividade económica, ii) riscos de sobrajustamento e/ou de inflação generalizada que poderá vir a ser uma via subsequentemente necessária para eliminar os excessos financeiros acumulados e salienta algumas consequências/riscos de ordem política geo-política entre as quais saliento nomeadamente: i) a revisão do equilíbrio entre "democracia" e "mercado" e iii) a redistribuição do poder mundial em favor das potências emergentes (e.g., China. India e Brasil).
PS: Este post conclui uma série (ver aqui) com a leitura comentada do livro de Vítor Bento.
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