Ainda no segundo capítulo do seu livro, Vitor Bento explica-nos a importância da Macroeconomia e, recusando a fórmula de que "não existe macroeconomia, só microeconomia e má economia", refere a importância desta enquanto ramo da Economia pelo facto de que "a multiplicação de decisões individuais cria um resultado qualitativamente diferente do que seria a mera soma dos resultados individuais" e, aspecto da maior importância, por "a multiplicação de decisões individualmente racionais não garante que o resultado agregado seja racional o que requer, entre outras coisas, a necessidade de uma instância coordenadora/reguladora dessas decisões - o Estado - para preservar a racionalidade do resultado agregado".
O que ilustra através de uma história de um grupo de amigos que faz um passeio de barco para ver golfinhos em que "De repente, perto de um dos bordos do barco aparecem golfinhos aos saltos (...) A escolha racional de cada passageiro, tendo em vista maximizar o seu prazer, é dirigir-se rapidamente à amurada para obter a melhor vista do evento. Mas, se todos fizerem essa escolha e forem consistentes com ela, o barco provavelmente adornará e todos acabarão na água. (...) Mais ainda: mesmo que alguns, poucos, entendam manter-se afastados do brodo mais desejado, acabarão também arrastados para o desastre provocado pela escolha massificada". Pelo que "só a intervenção da tripulação, regulando os acessos à amurada pretendida e evitando o afluxo simultâneo de passageiros, poderá evitar o desastre".
A semelhança desta situação com o que ocorreu (e está a ocorrer neste momento em Portugal) não é pura coincidência como nos revelam as páginas seguintes onde nos conta, sem nunca chegar a dizer que foi o que aconteceu em Portugal, a seguinte história: "Suponha-se que uym país era, em pouco tempo confrontado com uyma queda significativa das suas taxas de juro, provocada por motivos exógenos (...) Nesta cirscunstância, é totalmente racional que cada família, por exemplo, queira antecipar a realização das suas aspirações de vida endividando-se (...) O problema é que se todas - ou grande parte - das famílias decidirem fazer o mesmo, ao mesmo tempo (...) essa acumulação de decisões individualmente racionais vai acabar por influenciar desfavoravelmente, pelos desequilibrios que desencadeará, as perspectivas de rendimentos futuros (...) [e] as expectativas de melhoria de vida podem não se vir a materializar ou (...) poderão ser revertidas a meio caminho, por entretanto (...) se ter gerado uma crise económica (...) E o que era perfeitamente racional caso a caso deixou de o ser pelo efeito cumulativo e pelo turbilhão desestabilizador desse efeito".
Neste quadro em que não existe nenhum mecanismo auto-regulador dos desequilíbrios, ou pelo menos um nenhum suficientemente eficiente, estamos no contexto tipicamente Keynesiano em que o Estado pode através de um papel activo garantir a sustentabilidade macroeconómica utilizando os instrumentos ao seu dispor, o que na situação descrita poderia passar pela: i) imposição de "regras mais apertadas à concessão de crédito"; ii) aumento dos impostos; e/ou iii) redução da despesa do Estado.
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