Muito se tem falado e escrito sobre o caso islandês, sobretudo na sequência do recente referendo em que os eleitores recusaram o acordo celebrado pelo seu Governo com o Reino Unido e os Países Baixos para o pagamento de cerca de 4 mil milhões de euros. Esquecendo-se muitas vezes as profundas diferenças que existem entre o caso da Islândia e os casos português e grego (ao contrário do que sucede relativamente à Irlanda, onde é possível identificar importantes semelhanças com o caso islandês).
Em primeiro lugar, o voto "não" dos islandeses não deve ser desligado das circunstâncias específicas do caso. Ora, deve recordar-se que aquele acordo referia-se a responsabilidades que têm a sua origem em compromissos de um banco islandês (o Icesave) que após anos de crescimento exponencial implodiu de forma espectacular deixando de ter a capacidade de assumir as suas responsabilidades perante os respectivos depositantes, entre os quais muitos residentes no Reino Unido e nos Países Baixos que - atraídos pelas taxas de remuneração atractivas oferecidas por este banco - aí tinham aplicado as suas poupanças e que os governos do Reino Unido e dos Países Baixos assumiram e em realção aos quais pretendem ser ressarcidos por considerarem que nos termos do Acordo sobre o Espaço Económico Europeu (que além dos países da UE abrange a Nioruega, o Liechtenstein e a Islândia) o Governo islandês estaria obrigado a garantir, pelo menos, os primeiros € 20.000 de cada depósito e a tratar de formna não discriminatória os depositantes islandeses (cujos depósitos beneficiaram da garantia) e não islandeses. Não estava pois em causa uma reestruturação da dívida pública islandesa mas antes os termos da assunção pela Islândia de uma dívida originada por uma gestão irreeponsável de um banco privado.
Deve salientar-se, por outro lado, que o ajustamento económico islandês esteve longe de ser indolor. Com efeito o PIB terá caído 6,8% em 2009 e 3,0% em 2010 enquanto que o consumo privado reduziu-se 7,9% em 2008 e 17,0% em 2010. E o desemprego aumentou de 1,6% em 2008 para cerca de 8,6% em 2010 (resultados que embora sejam significativamente melhores do que os do cenário do programa de ajustamento não deixam de ser bastante gravosos).
Um outro factor importante foram as diferenças na situação orçamental pré-crise. Em 2007, a dívida pública islandesa correspondia a apenas 29,7% do PIB e a Islândia tinha um superávite orçamental superior a 5% do PIB.
Finalmente, deve referir-se que um factor extremamente importante para o ajustamento da economia islandesa foi a forte desvalorização da coroa islandesa que caiu de cerca de 80 coroas por euro para cerca de 160 coroas por euro, o que permitiu recuperar rapidamente a competitividade externa (vder Caixa 1 do relatório do FMI) e reequilibrar o défice externo corrente graças ao aumento das exportações e, sobretudo, a uma forte redução das importações (que cairam 18,2% em 2008 e 24,1% em 2009). Com custos elevados em termos de queda de salários reais num cenário em que a inflação subiu para 12,4% em 2009 e 12,0% em 2010, enquanto que os salários nominais aumentaram somente 3,3% em 2009 e 0,6% em 2010 (o que corresponde a uma queda dos salários reais de cerca de 17,5%).
Sem comentários:
Enviar um comentário