A avaliação global do Banco de Portugal sobre a economia portuguesa começa assim: "A economia portuguesa enfrenta um dos maiores desafios da sua história recente. Na sequência de um recrudescimento intenso da crise de dívida soberana na área do euro, as condições de acesso aos mercados de financiamento internacionais deterioraram-se de forma acentuada ao longo de 2010 e início de 2011. Os investidores internacionais singularizaram a economia portuguesa principalmente em função do elevado nível de endividamento externo e do baixo crescimento tendencial, em conjugação com níveis do défice e da dívida pública relativamente altos e superiores ao esperado. Estes desenvolvimentos contribuíram para avolumar os receios dos investidores internacionais sobre a sustentabilidade das finanças públicas e sobre a dinâmica intertemporal da dívida externa, tornando inadiável o pedido de assistência financeira internacional, concretizado no início de abril". Ou seja, o Banco de Portugal afirma claramente que foi o insucesso do ajustamento dos desequilíbrios externos em 2010 tornou inadiável o pedido de assistência externa, contrariando assim a tese de que se não tivesse ocorrido a crise política teria sido possível evitar esse pedido.
Salientando que "Ao longo de 2010, a economia portuguesa não corrigiu significativamente os desequilíbrios macroeconómicos acumulados nos anos anteriores" na medida em que "O esforço de consolidação orçamental ao longo de 2010 revelou-se claramente insuficiente face à magnitude do desequilíbrio orçamental. O défice das administrações públicas em 2010 – depois de ter em consideração várias alterações metodológicas e fatores extraordinários – situou-se em 9.1 por cento, face a 10.1 por cento em 2009." (aparentemente apenas uma pessoa em Portugal - o primerio-ministro - continua a afirmar que o défice foi de 6,8%) E que "No que se refere às necessidades líquidas de financiamento da economia, observou-se em 2010 uma diminuição de 1.2 pontos percentuais do PIB, mantendo-se ainda assim em níveis elevados, próximos de 9 por cento. A melhoria do défice externo refletiu a redução da taxa de investimento e a estabilização da taxa de poupança interna, em ambos os casos em níveis mínimos históricos."
O resto do Relatório pode ser acedido aqui, chamando-se a atenção para a caixa 5.3 que se encontra no final do capítulo 5 que contém uma análise detalhada da evolução da quota de mercado das exportações portuguesas da indústria transformadora entre 2000 e 2009, onde se refere que "as exportações portuguesas apresentaram um crescimento médio inferior ao das exportações mundiais, o que se traduziu numa perda de quota de mercado de cerca de 22 por cento em termos acumulados". Queda para a qual "a contribuição mais signifi cativa para a perda total na última década resultou do efeito quota de mercado, equivalente a 15.8 pontos percentuais (p.p.). Adicionalmente, o efeito combinado da estrutura setorial e geográfica das exportações portuguesas contribuiu também para a acentuada perda de quota global. Este efeito negativo refl etiu quer a composição por produtos quer a distribuição geográfi ca das exportações portuguesas e resultou do facto de Portugal estar relativamente mais especializado em mercados individuais com um crescimento abaixo da média."
Esta queda da quota de mercado de 15,8 pp foi particularmente intensa no período 2004-2005 (contributo de -17,0 pp),e resultou sobretudo da perda de competitividade nas áreas de baixa tecnologia, sobretudo nos texteis e calçado (-16,6 pp) e de média-alta teconologia (-5,7 pp) que não foi compensada pelo aumento nos sectores de média-baixa tecnologia (3,9 pp) e de alta tecnologia (1 pp) - ver quadro 2.
PS: Os sublinhados e o negrito são meus.
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